A última semana de estágio do ano 2010 foi passada maioritariamente no escritório a realizar trabalho de backoffice. Antes de o ano terminar, era tempo de rever e actualizar as checklists, bem como os manuais de segurança alimentar e alguns clientes.
É certo que a legislação comunitária exige um conjunto de regras de higiene bastante minunciosas e abrangentes, que exigem aos operadores do sector alimentar o planeamento e a implementação de um plano de autocontrolo baseado no sistema HACCP (Hazard Analysis and Critical Control Points). Este representa uma ferramenta essencial para avaliar perigos e estabelecer medidas de controlo. O sistema HACCP deverá ser concebido de forma a aplicar medidas que garantam a segurança dos produtos, através da identificação de pontos críticos de controlo (pontos de controlo essenciais para prevenir ou eliminar perigos relacionados com a inocuidade dos alimentos, ou para os reduzir a níveis aceitáveis).
Na realidade, tenho vindo a aperceber-me, que algumas organizações, possuem o manual de segurança alimentar, não tendo realmente implementado o próprio sistema. Os manuais muitas vezes, não são adaptados à realidade da organização, aos processos, ao produto e aos procedimentos. Esta situação sugere que os mesmos, são muitas vezes, manuais standardizados adquiridos pelo operador, não sendo por isso elaborados e implementados com o envolvimento e compromisso da gestão de topo.
De facto, a eficácia do sistema HACCP, passa muito em parte pela existência deste envolvimento, pela consciencialização do que representa e para que serve. Somente quando existe uma politica e um compromisso que beneficie a sua elaboração, implementação e dinamização é que podem ser evidenciados resultados, pois este sistema, representa uma ferramenta operacional, exequível e consistente, que quando usada correctamente permite reduzir factores de risco, contribuindo para uma efectiva segurança alimentar.
:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
Auditoria ao refeitório de uma escola
No decorrer desta semana tive a oportunidade realizar uma auditoria, ao refeitório de uma escola do 1º ciclo. Como já haveria referido num outro comentário, as condições estruturais e de equipamentos são factores difíceis de mudar chegando a ser em alguns casos, mesmo impossíveis. Subsidiariamente a este facto há que focar um outro aspecto, que a meu ver, se revela preponderante chegando a ser, até mesmo um ponto chave que permite contornar algumas situações, são as boas práticas de higiene e fabrico. Durante esta visita, tive o privilégio de conhecer uma cozinheira (responsável de cozinha) que dentro das condições estruturais e de equipamentos que lhe eram oferecidas conseguia assegurar que as boas práticas de higiene e fabrico fossem alcançadas com distinção.
Os manipuladores representam um ponto fundamental na higiene e segurança dos alimentos nas diferentes etapas da cadeia alimentar, dado que podem ser o veiculo de inúmeros microrganismos para os alimentos, sejam de deterioração ou potencialmente patogénicos (Galetti, 2005). Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 26% das causas de contaminação dos alimentos, estão relacionadas com os manipuladores, sendo identificada uma relação directa entre as inadequadas praticas de higiene pessoal e a ocorrência de doenças de origem alimentar (Good Worker Health and Hygiene Practices, 2007).
::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
Reflexão
Tal como a maioria das pessoas, é impossível chegar ao final do ano sem fazer um balanço/reflexão sobre o mesmo. E não, não vou falar na crise! Vou antes partilhar uma reflexão que fiz, relacionada com os estágios que tenho vindo a realizar.
Recordo que há uns tempos atrás, quando no âmbito de outro estágio, prestei com mais alguns colegas, um serviço de consultoria a uma unidade hoteleira. No final do mesmo, tive uma sensação desagradável, lembro-me de ter ficado um pouco reticente acerca da minha capacidade de execução deste tipo de serviço. Isto porque, sendo a primeira vez que me encontrava a vistoriar um local, deparei-me com situações que não gostei particularmente de sentir, respectivamente, o facto dos funcionários se mostrarem incomodados com a nossa presença, sentia no seu olhar, para além do desconforto, que representávamos um transtorno. Todo este quadro levou a que os funcionários algumas vezes se mostrassem indisponíveis ou até mesmo receosos em mostrar-nos algumas coisas.
Actualmente, ao reflectir sobre essa experiência e fazendo um paralelo com a minha experiência actual, constato que existem formas de contornar este mau estar, substituindo-o por algo que pode ser chato, mas necessário. Ou seja, de uma forma geral, percebo agora que tudo se relaciona com a postura que é adoptada no terreno, pois comportamento gera comportamento, se eu oferecer desconforto, vou receber em troca desconforto!
E talvez, sendo nós alunos empenhados e com vontade de aplicar os conhecimentos adquiridos, acredito que tenhamos passado, de alguma forma, aquela ansiedade típica de uma criança quando abre os presentes de Natal!
Percebo agora que envolver as pessoas durante a auditoria, levando-as a acompanhar o procedimento, facilita o processo, e aprimoriza as informações que, sem querer nos vão sendo dadas, ajudando-nos a nós também a perceber algumas questões organizacionais e de gestão que contribuem para a incidência de algumas não conformidades. Por outro lado, tenho consciência que nem sempre este envolvimento é possível e fácil como parece descrito anteriormente, pois muito depende da personalidade da pessoa que nos acompanha, da sua disponibilidade, da sua motivação, do seu entrosamento com a empresa e ao fim ao cabo da cultura organizacional.