O Governo português prevê que as regras aplicáveis às taxas moderadoras da saúde sofram alterações a partir do mês de Setembro de 2011, sendo que o valor das mesmas irá variar de acordo com o rendimento de cada utente. O acordo entre o Governo e a troika já previa um aumento das taxas, mas para reduzir até 2013 as despesas do Serviço Nacional de Saúde em 550 milhões de euros, segundo as exigências da troika, o Governo não modificará apenas as taxas moderadoras como também a lista de isenções.
A saúde deve ser um direito de todos ou apenas daqueles que a podem pagar?

Margaret Chan, Directora Geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), direcciona a nossa atenção, no Relatório Mundial de Saúde, para a procura de opções que melhorem a eficiência do SNS, ao invés de nos focarmos exclusivamente no corte das despesas. Margaret Chan defende que ninguém deve ser forçado à ruína para se tratar! Sendo apontado ainda, neste mesmo relatório, que o aumento das taxas moderadoras representa de longe o maior obstáculo ao progresso desta medida.
Por outro lado, António Arnaut, “pai” do SNS, reforça que a saúde é um direito fundamental consagrado na nossa Constituição como tendencialmente gratuito e não tendencialmente pago. Ele é, pois, um direito que radica na ideia de dignidade da pessoa humana. Neste sentido, se as alterações previstas forem implementadas, o acesso à saúde universal inscrito na Constituição da República irá ser desconsiderado.
Na realidade o financiamento do SNS não deverá ter por base o aumento das taxas moderadoras. É assim possível concluir-se que o modelo de gestão deve evoluir para melhor responder às necessidades actuais, onde muito provavelmente a sua eficiência passará muito em parte pela modificação interna e melhor gestão do SNS.
Apesar de todos os cortes previstos, o actual programa do Governo para a saúde pretende apostar na regulamentação e desenvolvimento do sector da saúde pública, com especial enfoque na actuação das Autoridades de Saúde e da aplicação de sistemas de vigilância epidemiológica. No meio de todo o panorama anteriormente referido, esta parece uma boa notícia e diria até que inteligente, pois na realidade ao abrirmos as portas à Saúde Pública estamos a permitir que esta tenha uma papel mais activo e uma expressão mais vincada. Será desta forma que a prevenção e promoção da saúde assumirá uma parte nuclear do Sistema Nacional de Saúde, onde a prevenção primária representará a medida menos custosa e ao mesmo tempo mais eficiente. Ao fim e ao cabo ao apostarmos no desenvolvimento de uma população mais saudável e mais responsável pela sua saúde estamos certamente a contribuir para a diminuição da morbilidade em Portugal e por sua vez para a diminuição da necessidade de consumo de cuidados de saúde.
*Artigo de opinião publicado na newsletter #3 da SPSA.
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