domingo, 22 de maio de 2011

Temperatura, pH e Cloro na Água de Consumo Humano

Actualmente, tem-se observado um aumento significativo do uso de águas subterrâneas, devido ao menor custo de tratamento, distribuição e principalmente a escassez de recursos hídricos. A obtenção de água por captação de água em poços e furos é mais frequente em zonas rurais e suburbanas não servidas pela rede pública, ou até mesmo por estabelecimentos ou industrias que utilizem grandes quantidades de água no seu processo produtivo.
Durante a realização das colheitas de água, procedemos à determinação “in loco” dos seguintes parâmetros:
a) temperatura;
b) pH;
c) cloro residual livre.
 
a) Temperaturatemperatura.agua 
A água para consumo humano deve ter uma temperatura ajustada à época sazonal. Este parâmetro  é importante pois determina a velocidade das reacções químicas, podendo contribuir para o aparecimento de microorganismos e intensificação das características organolépticas.
A temperatura é medida utilizando um termómetro adequado.
Coloca-se a sonda do termómetro durante alguns segundos em contacto com o fluxo de água, procedendo-se de seguida à leitura do valor no mostrador quando este estabilizar.

 

b) pH

pH.aguaMede a concentração hidrogeniónica da água, dependendo esta das características geológicas de cada zona.

O valor do pH traduz a acidez ou a alcalinidade da água. A escala do pH compreende valores entre 0 e 14, sendo que um pH igual a 7,0 indica uma solução neutra. O pH deverá assumir valores compreendidos entre ≥ 6,5 e ≤ 9.

A medição do pH é efectuada através de um medidor de pH (figura b). Enche-se um recipiente no qual se coloca o medidor durante alguns segundos até este estabilizar, procedendo-se de seguida à leitura do valor no mostrador.

O pH baixo (acidez) aumenta a dissolução dos metais das tubagens, válvulas e equipamento metálicos, um valor de pH baixo propícia a dissolução de acessórios metálicos, podendo alterar o sabor da água original. Por outro lado, valores de pH acima de 8 unidades, tornam a água menos agradável ao paladar e podem propiciar a precipitação de sais ou outros compostos, favorecendo o desenvolvimento de incrustações nas tubagens.
 
c) Cloro residual livre
O cloro é um desinfectante utilizado no tratamento da água para garantir a qualidade microbiológica da mesma. A sua utilização no tratamento da água pode ter como objectivos a desinfecção (destruição dos microrganismos patogénicos), a oxidação (alteração das características da água pela oxidação dos compostos nela existentes) ou ambas as acções ao mesmo tempo.
O processo de tratamento mais comum das águas de furos e poços é através de cloração ao break-point, ou seja, quando é adicionado um composto clorado à água com finalidade de a desinfectar.
O cloro deve ser adicionado à água em doses baixas mas suficientes para garantir os valores do cloro residual adequado à manutenção da qualidade microbiológica da mesma, de acordo com o recomendado pelo Decreto-Lei 306/2007 as concentrações deste parâmetro devem situar-se entre 0,2 e 0,6 mg/l de cloro residual livre.
As primeiras doses de cloro aplicadas, oxidam a matéria orgânica e os compostos inorgânicos que existem na água e originam o ácido clorídrico que não tem poder desinfectante, apenas o cloro disponível ou cloro activo tem poder desinfectante.
Continuando a adicionar cloro à água, as doses seguintes reagem com a amónia e com outros compostos de ozono, nomeadamente compostos orgânicos que a agua possui, originando as cloroaminas e compostos organoclorados azotados.
Ao cloro que se encontra na água sob forma de cloroaminas ou ligado a compostos azotados (sem poder desinfectante), denominamos por cloro residual disponível combinado.
Adicionando mais cloro este vai reagir com as cloroaminas e forma-se ácido clorídrico (não desinfectante), por destruição das cloroaminas, diminuindo portanto o teor em cloro residual disponível que existia na água.
A partir de determinada dose de cloro, deixa de ocorrer destruição das cloroaminas e todo o cloro adicionado origina cloro disponível sob a forma de ácido hipocloroso e de ião hipoclorito- cloro residual disponível livre. Esta concentração depende fortemente da temperatura e pH do meio.
 
breakpoint


Medição do cloro residual livre
 
  
 
  THM – trihalometanos
 
Dibromochloromethane-3D-vdW Um importante inconveniente do uso da cloração para a desinfecção da água é a produção de substâncias orgânicas cloradas - algumas das quais tóxicas, constituindo este um forte motivo para se vigiar a qualidade da mesma.
Estes subprodutos surgem mais frequentemente nas águas brutas superficiais devido às grandes interferências ecológicas a que estão sujeitas.
A reacção do cloro com alguns compostos orgânicos leva à formação de trihalometanos (THM), quanto maior a dosagem de cloro, maior será a probabilidade de formação de THM. A forma sob a qual o cloro se apresenta também é importante; o cloro livre tem maior poder de formação de THM do que o cloro combinado. Vários estudos confirmam que os THM’s são um potencial cancerígeno, tendo evidenciado a ocorrência de efeitos mutagénios em diferentes espécies animais. Em relação ao Homem, o efeito destas substâncias apresenta diferenças de actuação mais quantitativas que qualitativas, devido aos fenómenos biológicos de absorção, assimilação, excreção e desintoxicação de THM, que o cloro combinado.
agua Na última alteração proposta pela Comissão das Comunidades Europeias à Directiva relativa à  Qualidade da Água Destinada ao Consumo Humano, e aprovada em Bruxelas a 4 de Junho de 1997, é apresentado um valor de concentração máxima para a soma dos quatro THM’s (Clorofórmio, Bromofórmio, Bromodiclorometano e Dibromoclorometano) de 100 mg/L a atingir dentro de 10 anos após a aprovação de alteração da Directiva. Nesta sequência, o decreto-lei 306/2007de 27 de Agosto refere que o valor total de Trihalometanos não pode ser superior a 100 mg/L.
É importante referir que, segundo as orientações da OMS para a água de consumo humano, ainda que o uso de desinfectantes químicos no tratamento de água possa favorecer a formação de subprodutos, os riscos para a saúde desses subprodutos são menores em comparação com o riscos associados à inadequada desinfecção, sendo importante que esta não seja comprometida na tentativa de controlar esses subprodutos.
Alguns desinfectantes como o cloro podem ser facilmente controlados, sendo por isso recomendável que se proceda à sua monitorização com alguma frequência.
As estratégias básicas que podem ser adoptadas para reduzir as concentrações de DBPs (THM, são uma classe de DBPs) são:
image a - Mudança das condições do processo (incluindo a remoção de compostos precursores antes da aplicação);
- Usando um desinfectante químico diferente com uma menor propensão para produzir derivados com a água da fonte;
- Usando desinfecção não-químicos e / ou DBPs de remoção antes da distribuição.
 
Documentos de referência:

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