sábado, 30 de julho de 2011

Riscos Ocupacionais Emergentes

O ambiente de trabalho, hoje caracterizado por instabilidade e incerteza, implica mais do que nunca por parte dos trabalhadores o desenvolvimento de capacidade para adaptação à mudança e flexibilidade.images

O acordo com a ‘troika' e o próprio programa do Governo esboçam um conjunto de medidas na área do mercado de trabalho. A redução das indemnizações por despedimentos, a alteração do vínculo laboral com a previsão do Contrato Único, a generalização da precariedade com a admissibilidade do recurso ao trabalho temporário sem qualquer motivo justificativo, a criação de um Fundo de Garantia para o qual os trabalhadores descontarão com o objectivo de pagar a sua indemnização por despedimento, a alteração das regras da cessação do contrato de trabalho, o ataque à negociação colectiva permitindo a aplicação de mecanismos como o banco de horas sem a previsão nas convenções colectivas e a transferência para a negociação de base empresarial de matérias como horário de trabalho, salário e mobilidade, entre outras medidas que vão desequilibrar, ainda mais, a relação entre entidades patronais e trabalhadores, sempre a favor das entidades patronais.

1265101777_corda_bambaA crise social e económica que o país atravessa, em muito afectou o mercado de trabalho, criando um clima de insegurança e instabilidade que se faz sentir, acarretando com isso o aparecimento de novos risos dos quais destaco os psicossociais. A instabilidade de trabalho tornou-se um stressor que interfere com o campo pessoal e profissional.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), estima-se que cerca de 5000 pessoas por dia, morrem em consequência de acidentes no trabalho e doenças profissionais. Os factores psicológicos como o stress, tem sido apontados pela Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), como os grandes responsáveis pelo aumento dos acidentes de trabalho, ocupando as depressões, o stress, o burnout e as doenças do foro psicológico um lugar de destaque na sociedade actual.

O nível de organização do trabalho diz respeito a um ambiente configurado e ordenado pelo empregador para ir ao encontro das estratégias de produção e de resposta ao ambiente envolvente, que pressupõe a disponibilidade de um conjunto de capacidades e valência da parte dos trabalhadores. É possível distinguir quatro grandes modelos de organização do trabalho: organização do trabalho activa, passiva, de baixa tensão e de elevada tensão, correspondendo esta última a situações experienciadas pelos trabalhadores de elevada exigência, não lhe sendo permitido contudo, controlar os acontecimentos. Os trabalhadores têm de se adaptar passivamente a qualquer modificação no trabalho ou a exigências contraditórias (Karasek, 1979). É por este motivo que os muitos postos de trabalho são actualmente identificados pelos elevados níveis de stress ocupacional.

Sabe-se actualmente que o stress ocupacional poderá conduzir a problemas na saúde física, mental e na satisfação no trabalho, afectando o indivíduo e as organizações. A primeira definição de Stress foi avançada por Hans Selye (1980) para representar a propensão do organismo para reagir de forma idêntica a estímulos diversos. Quando confrontado com exigências que ameaçam ultrapassar as capacidades individuais para lidar com elas, o sistema psicofisiológico responde de uma forma geral e não específica. Cooper (1988) definiu stress ocupacional, como um problema de natureza perceptiva, resultante da incapacidade de lidar com as fontes de pressão no trabalho. As causas de stress, que existem ou não no ambiente laboral ou na ligação casa/trabalho, em conjunto com as características pessoais de cada indivíduo podem eventualmente conduzir aos sintomas ou às doenças relacionadas com o stress. Será relevante focar ainda que a caracterização de um fenómeno de stress depende da percepção do indivíduo em avaliar os eventos como stressors. O papel cognitivo é determinante no processo que ocorre entre os estímulos potencialmente stressors e as respostas do indivíduo, de acordo com a sua capacidade de avaliar demandas do trabalho como stressors que excedendo a sua habilidade para os enfrentar lhe causam reacções negativas a nível psicológico, fisiológico e comportamental. O stress normalmente é referido em três níveis: Eustress ou Stress Saudável, Distress ou Stress Disfuncional e Esgotamento ou Burnout. O primeiro nível relaciona o stress com a motivação suscitada pelos desafios profissionais, de uma actividade produtiva e propiciadora de realização, à qual acarreta um sentimento de bem-estar. O segundo nível, Distress, caracteriza-se por situações de não cumprimento das exigências das tarefas que despoletam insatisfação, cansaço, doenças físicas e psíquicas, entre outras. O Burnout, corresponde ao último nível de stress,  uma situação de total exaustão física, mental e emocional, fortemente condicionadora das tarefas diárias, originando um estado de depressão e fadiga física grave.

Desta forma, revela-se fundamental identificar as categorias de riscos que podem levar ao stress no trabalho e criar estratégias que permitam a sua gestão, representando estas medidas, um desafio para qualquer empresa, que uma vez consciente da necessidade de se ajustar ao novo cenário competitivo e globalizado, deve apostar na produtividade dos seus trabalhadores, considerando que esta depende fundamentalmente da saúde dos mesmos.

chaplin-modern-times50[1]A actual proposta de alteração da lei laboral, com a redução das indemnizações por despedimentos, pode beneficiar os bons trabalhadores ou os mais produtivos, em detrimento daqueles que pouco produzem mas são quase impossíveis de despedir (indemnizações). Por outro lado, não sei se este tipo de seriação será sempre justa, uma vez que por detrás destes despedimentos podem estar razões como a baixa de produtividade de um trabalhador, sendo este facilmente substituído por um outro. O que acontece neste cenário, é que deixa de existir uma preocupação efectiva entre a entidade empregadora e o colaborador, quer no seu investimento, na sua progressão, nas condições que lhe são proporcionadas, entre outros, ou seja, ao fim ao cabo acabará por vingar aquele que tenha maior resistência, e quando este falir, outro o poderá substituir. Não será que o factor humano vai começar mais uma vez a ser descurado e o homem passará a ser mais uma “peça na engrenagem?”

 

Documentos de Referência:

PROPOSTA DE LEI N.º 2/XII/1.ª

Novos Riscos Emergentes para a Segurança e Saúde no Trabalho ( Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Qualidade do Ar Ambiente e Saúde Pública

No passado dia 28 de Junho, o Director Geral da Saúde Francisco George, emitiu um comunicado alertando para a qualidade do ar, a nível nacional, tendo-se registado uma corrente de Sueste de ar quente e seco que transportou, para Portugal Continental, partículas em suspensão com origem no Norte de África. (Poluição atmosférica - Partículas de origem natural)

As partículas atmosféricas referidas têm diâmetro inferior a 10 μm e são inaladas pelo sistema respiratório, podendo ser responsáveis por efeitos adversos na saúde humana. Na realidade, partículas com um diâmetro aerodinâmico menor conseguem atingir os alvéolos pulmonares e penetrar na corrente sanguínea, apresentando padrões de maior toxicidade.

Qualidade do ar é o termo comummente utilizado para traduzir o grau de poluição no ar que respiramos. Esta poluição é provocada por uma mistura de substâncias, lançadas no ar ou resultantes de reacções químicas, que alteram a constituição natural da atmosfera. O maior ou menor impacto que estas substâncias poluentes podem ter na qualidade do ar, depende da sua composição química, concentração na massa de ar e das condições meteorológicas. A título de exemplo, a existência de ventos fortes ou chuvas poderão dispersar os poluentes, ao mesmo tempo que a presença de luz solar poderá acentuar os seus efeitos negativos.

É desta forma perceptível que as fontes de poluição atmosférica podem ser de origem natural (emissões provenientes da actividade vulcânica, fogos florestais, tempestades de areia, etc.) ou de origem antropogénica - resultante da actividade humana (actividade industrial, tráfego automóvel, navios, aviões, etc.).

A concentração de uma determinada substância na atmosfera pode variar no tempo e no espaço em função de:

  • Reacções químicas e/ou fotoquímicas,
  • Fenómenos de transporte,
  • Factores meteorológicos (ventos, turbulências e inversões térmicas) e da topografia da região.

Desta forma, as condições meteorológicas tem um papel determinante na descrição físico química do transporte de poluentes entre a fonte e o receptor. Assim: 

  • as análises dos dados meteorológicos,
  • a definição dos períodos críticos,
  • a monitorização dos poluentes e
  • a modelação matemática para simulação da qualidade do ar,

representam ferramentas fundamentais para o estabelecimento de planos de controlo de poluição do ar.

Por outro lado, importa salientar que mesmo que a emissão de poluentes seja constante, a qualidade do ar pode piorar ou melhorar, de acordo com as condições meteorológicas, que podem favorecer ou desfavorecer a dispersão de poluentes. Concomitantemente deve também ser alvo da nossa atenção o sinergismo entre poluentes, isto é, quando o efeito combinado de duas substâncias é superior à soma dos efeitos de cada uma delas quando actuam isoladamente, ou seja, a sua interacção multiplica o efeito da substância tóxica.

 

Dispersão dos poluentes

Gradiente térmico

A temperatura do ar normalmente decresce com a altitude de aproximadamente 1ºC/100m. Este fenómeno acontece uma vez que uma massa de ar seco em ascensão é sujeita a pressões mais baixas aumentando o seu volume e diminuindo a temperatura - Gradiente adiabático.

Ventos

O fluxo geral de ar sobre a terra é influenciado por variações de pressão de grande escala, sendo normalmente apresentadas nas cartas meteorológicas. A intensidade destes sistemas de pressão e o seu posicionamento ou trajectórias determinam a distribuição dos ventos em uma dada área.

Circulação geral da atmosfera

Os processos atmosféricos e a circulação associada aos grandes centros de acção, determinam e afectam o estado do tempo sobre os continentes e grandes oceanos do globo. Aos centros de altas pressões designados de anticiclones estão associadas condições de tempo caracterizadas por grande estabilidade com pouca mistura vertical e portanto fraca dispersão dos poluentes (A). Aos centros de baixa pressão de depressões associam-se condições de instabilidade e de grande turbulência favorecendo a dispersão dos poluentes (B).

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Carta meteorológica.

Fonte: Instituto de Meteorologia, 2011

Os fenómenos anteriormente referidos influenciam as condições de turbulência e de estabilidade da atmosfera, e pode ter durações mais ou menos prolongadas, podendo uma vez reunidas condições desfavoráveis à dispersão, levar a episódios de poluição aguda (smog no Inverno e smog fotoquímico no Verão).

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1) Fluxo Normal: Situação normal de dispersão dos poluentes atmosféricos;

2) Inversão Térmica: Situação de dispersão dos poluentes atmosféricos sob o efeito de inversão térmica

Fonte: Agência Portuguesa do Ambiente

Estamos pois, perante mais uma ameaça de saúde pública, onde as consequências na saúde podem ser consideráveis. Em termos globais, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 800.000 pessoas morrem por ano a partir dos efeitos da poluição do ar.

Para melhor se compreender os impactos na saúde é indispensável primeiro distinguir concentração e exposição. A concentração representa uma característica física do ambiente num dado local e tempo, a exposição, por sua vez, quantifica a interacção entre o ambiente e um ser vivo. Exposição pode ser definida como o evento que ocorre quando um indivíduo está em contacto com um poluente. Em suma, para que ocorra exposição é necessário que, no mesmo local, esteja presente um indivíduo e um poluente com uma concentração maior que zero.

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Desta forma, é perceptível que as consequências para a saúde, resultantes da exposição à poluição do ar, dependem da severidade dos tipos de poluentes, da magnitude, duração,  frequência de exposição e da toxicidade de cada poluente. Por outro lado, é igualmente importante avaliar os níveis de exposição dos diferentes grupos populacionais, especialmente os grupos de risco, como crianças, idosos, grávidas e  doentes crónicos. Além dos grupos de risco referidos há que salientar que a exposição dos indivíduos depende também das actividades que realizam durante o período de tempo que estão expostos aos poluentes, por exemplo desportistas.

A título reflexivo o que se verifica no fundo é que  não existe ar puro,o ar que respiramos é uma mistura de azoto, oxigénio, dióxido de carbono, ozono, vapor de água e outros gases diversos. Na realidade uma panóplia de fenómenos naturais resulta na emissão de gases e partículas (aerossóis) para a atmosfera, como já referido, por isso e não esquecendo que  as emissões antropogénicas suscitam as maiores preocupações em relação às suas consequências para a saúde pública, torna-se fundamental apostar no controlo da qualidade do ar, para que consigamos em tempo útil tomar medidas preventivas!

Desde o ano de 2001 que foi criado o CAFE (Clean Air for Europe) que é um programa europeu de análise técnica e desenvolvimento de políticas que visa a adopção de uma Estratégia Temática sobre Poluição Atmosférica, de acordo com o 6º Programa de Acção em Matéria de Ambiente (6º PAA), cujo objectivo principal foi o de desenvolver uma estratégia política integrada e de longo termo para a protecção contra os efeitos da poluição atmosférica na saúde humana e no ambiente. (Estratégia Temática sobre Poluição Atmosférica)


Actualmente é possível mantermo-nos informados acerca da qualidade do ar on-line através do site Qualar.

domingo, 10 de julho de 2011

Saúde Ambiental Walk Through

Finda agora mais um ciclo de experiências, aprendizagens e emoções que fizeram parte de uma viagem, que teve a duração de quatro anos pelo mundo da Saúde Ambiental. Durante esta viagem vivi momentos inesquecíveis, conheci lugares de sonho, pessoas extraordinárias e amigos para sempre!

É certo que este percurso teve também as suas dificuldades, em alguns momentos encontrei obstáculos que me deram luta, deparei-me com avarias difíceis de reparar e algumas vezes cheguei a ficar sem combustível! Mas, felizmente consegui manter os meus objectivos na mira e com a ajuda de todos aqueles que acreditaram em mim, as dificuldades foram bem mais fáceis de serem eclipsadas...

 E porque a Saúde Ambiental é para muitos de nós uma paixão, carece de uma "acendalha" que lhe dá força e dimensão. É esta acendalha que, na maioria das vezes, nos impulsiona e direcciona a realizar aquilo que produzimos com gosto e devoção.

Após realizar este último estágio numa unidade de saúde pública, acredito ter descoberto a minha acendalha, denominando-se ela… Saúde Pública! Para além de considerar que a mesma é por vezes pouco compreendida e diria até mesmo pouco reconhecida, fruto da sociedade imediatista em que vivemos, onde o tempo entre a intervenção e os resultados deverá ser o mais célere possível, nada favorece a sua visibilidade, contemplando ainda, que em Saúde Pública (SP) o “não acontecimento” é o resultado pretendido. Na realidade, todos os profissionais desta área, lutam para que a doença se aproxime, cada vez mais, de um fenómeno raro!

Sempre que falamos em SP falamos em saúde das populações. Agir em SP implica intervir “a montante” prevenindo a doença e protegendo a saúde, implica termos “braços grandes”, isto é, muitos braços capazes de abarcar toda a população, identificando as suas necessidades, as suas potencialidades, desenhando e implementando estratégias para o seu controlo e avaliando o seu impacto.

Pode parecer um pouco utópica esta minha visão, ou típica de um recém-licenciado que acaba o curso com a força de vontade voraz de fazer… Contudo, e tal como referia Artur Miller, dramaturgo americano, “para mobilizar pessoas para qualquer empreendimento humano de alguma envergadura é necessário situar a fasquia bem alto, de facto muito perto da utopia. Isto torna a fasquia inatingível. Mas o que importa, é o facto de ser entre a primeira ideia do novo empreendimento, e o primeiro sinal que não se pode ir tão longe como se pretendia, é nesse intervalo, que as coisas verdadeiramente importantes acontecem.”

Não poderia terminar este momento sem agradecer a todos aqueles que com amizade se sentaram no meu comboio e fizeram desta minha viagem, uma viagem bem mais rica e muito mais feliz!



Muito Obrigada a todos, e em especial
 àqueles, que ao lerem sobre a minha
viagem  se identificam nela!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Gestão de Resíduos Hospitalares

O Diploma Legal que estabelece o Regime Geral da Gestão de Resíduos, o Decreto - Lei n.º178/2006, de 5 de Setembro, define resíduo hospitalar (RH) como o resíduo resultante de actividades médicas desenvolvidas em unidades de prestação de cuidados de saúde, em actividades de prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e investigação, relacionada com seres humanos ou animais, em farmácias, em actividades médico-legais, de ensino e em quaisquer outras que envolvam procedimentos invasivos, tais como acupunctura, piercings e tatuagens.

O decreto–lei supracitado aplica-se às operações de gestão que compreendem a recolha, o transporte, armazenamento, triagem, tratamento, valorização e eliminação de resíduos e são da responsabilidade de quem os produz.

Sendo os resíduos hospitalares um sub-produto inevitável da actividade das unidades de saúde, exige uma gestão cautelosa e integrada, devido à sua heterogeneidade e perigosidade. Na realidade, os resíduos hospitalares podem representar um grave problema de saúde pública e ambiental, pela disseminação de doenças por agentes biológicos, pela contaminação das águas, do solo, dos alimentos e do ar. 

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a prevenção dos riscos está associada a uma adequada gestão desses resíduos, representando a triagem (separação de RH no local de origem, sendo esta uma das fases mais importantes para a minimização) a estratégia ideal para a melhoria desta gestão nas unidades de saúde. Torna-se portanto fundamental partir do princípio da redução de riscos de contaminação, do meio ambiente, do trabalhador e da comunidade. É decerto menos oneroso manusear e acondicionar resíduos de forma adequada do que recuperar recursos naturais contaminados, bem como prestar cuidados de saúde ao pessoal envolvido neste processo, dado que, caso haja uma amálgama de resíduos de classes diferentes, um resíduo não perigoso pode ser contaminado e tornar-se perigoso, dificultando a sua gestão e aumentando os custos associados ao processo de tratamento.
A produção de RH varia de acordo com o número de utentes, as especialidades existentes, os tipos de cuidados de saúde prestados, a quantidade de material reutilizado e os métodos de gestão existentes, entre outros.

Classificação dos RH (Cumprimento do Despacho nº242/96 )                                                          
Os resíduos hospitalares agrupam-se da seguinte forma:

Acondicionamento (Cumprimento do Despacho nº242/96 )
A triagem e o acondicionamento devem ter lugar junto do local de produção.  
Grupos I e II – recipientes de cor preta;
Grupo III- recipientes de cor branca com indicativo de risco biológico;
Grupo IV- recipientes de cor vermelha com excepção dos materiais cortantes e perfutantes que devem ser acondicionados em recipientes, contentores, imperfuráveis (cor amarela).  

Devo ainda enfatizar, que os contentores referentes ao grupo III e IV devem ser facilmente manuseáveis, resistentes e estanques, mantendo-se hermeticamente fechados, laváveis e desinfectáveis, se forem de uso múltiplo.

Armazenamento (Cumprimento do Despacho nº242/96 )
Grupos I e II 
- Deve existir um local de armazenagem específico, separado dos resíduos dos Grupos III e IV.
- Os contentores devem ser adaptados ao sistema de recolha de resíduos sólidos urbanos.
Grupos III e IV
O seu dimensionamento deve ser feito em função da periodicidade de recolha, devendo a sua capacidade mínima corresponder a três dias de produção e, caso esse prazo seja ultrapassado, ter condições de refrigeração, não devendo contudo ser superior a sete dias. 
- Deve ser de acesso fácil ao exterior e estar interdito a pessoal não autorizado.
                                                                                                                                              

Por forma a garantir que o plano se mantenha adequado à dimensão, estrutura e quantidade de resíduos produzidos, e que os circuitos de circulação definidos conferem o menor risco para doentes, trabalhadores e público em geral, revela-se essencial, realizar o acompanhamento do plano, através da verificação in situ da forma como está a ser implementado. Ao fim ao cabo, o reforço do controlo da gestão dos resíduos hospitalares, nas unidades produtoras de resíduos hospitalares, através da realização de auditorias periódicas, permitirá o acompanhamento e melhoria contínua dos processos e procedimentos adoptados.
Com o objectivo de rever e actualizar o plano de gestão de resíduos hospitalares desenvolvido pela unidade de saúde publica, realizámos auditorias às extensões de saúde com recurso a uma check-list elaborada pela divisão de Saúde Ambiental da Direcção Geral de Saúde no plano de gestão de resíduos hospitalares em centros de saúde.

De uma forma geral, as não conformidades encontradas bem como os pontos que deverão ser alvo de intervenção são:

·   - Os contentores para a deposição de resíduos: 
       - devem ser identificados, revestidos por saco de plástico referente ao grupo de resíduos a que se destina e ter tampa accionada por pedal.


·      
A recolha selectiva de resíduos (cartão, plástico e vidro) deve ser implementada por forma a dar cumprimento à legislação nacional vigente .


·      
Zona de armazenamento de RH
    Regra geral, a maioria das extensões de saúde localizam-se em edifícios antigos, sendo estes da responsabilidade da autarquia.  Embora a zona de armazenagem não seja a ideal, a solução encontrada, foi permitir o acesso a partir do interior e exterior do edifício, como é possível ver nas figuras em baixo. Ainda assim, será necessário que esta esteja identificada e evite a acumulação inadequada de outros produtos e equipamentos, não devendo o seu acesso ser obstruído. 

     
Triagem 
A incorrecta separação compromete todo o processo de gestão de resíduos, desta forma há que atribuir especial atenção a esta fase do processo, tendo sido identificadas várias não conformidades na maioria das extensões.


·      
Manuseamento 
Os operadores que manuseiam e transportam os resíduos deverão utilizar luvas durante a recolha e seguir os procedimentos referentes ao transporte seguro dos mesmos, por forma a serem evitados acidentes de trabalho.

Todos os profissionais envolvidos na gestão de RH, bem como aqueles que os manipulam, estão potencialmente em risco de contrair infecção por cortes acidentais ou por contacto com os RH após ruptura/derrame dos recipientes (sacos ou contentores). De uma forma geral, as auditorias realizadas permitiram também diagnosticar as necessidades de formação existentes, assim como definir mais claramente os objectivos a atingir no próximo programa de formação, promovendo assim uma intervenção mais criteriosa na colmatação das deficiências formativas. Por outro lado, importa focar que uma gestão de RH adequada depende não só de uma boa organização e administração, mas também da participação activa de pessoal bem informado e formado. 

terça-feira, 5 de julho de 2011

Temperaturas Extremas Adversas

Continuando a explorar as consequências decorrentes das alterações climáticas, das quais já abordei na publicação anterior, doenças transmitidas por vectores, hoje, proponho-me a explorar os efeitos das temperaturas extremas na saúde. 

A exposição ao calor intenso, principalmente quando esta exposição se prolonga por vários dias consecutivos, pode provocar diversas perturbações no organismo que, pela sua gravidade podem exigir cuidados médicos de emergência. De entre estas perturbações destacam-se:



De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), onda de calor, representa um período que se caracteriza por temperaturas anormalmente elevadas ou uma invasão de ar muito quente. Deste modo, uma onda de calor pode ser caracterizada por temperaturas máximas muito elevadas, persistentes e temperaturas mínimas elevadas. Concomitantemente quer a humidade relativa, a velocidade do vento e a tolerância das pessoas ao clima de uma determinada região, influenciam a sua capacidade para suportar esta situação climática.


 
Tem-se vindo a evidenciar uma forte associação entre o excesso de mortalidade e a existência de períodos de três ou mais dias consecutivos de temperaturas elevadas não habituais. Esta associação observa-se no primeiro dia ou com um atraso de até três dias depois do aumento das temperaturas.

Os idosos e as crianças menores de 3 anos são dois grupos particularmente vulneráveis aos efeitos do calor, que se traduzem fundamentalmente pela desidratação (perda de água pelo organismo através da transpiração, urina e fezes - sobretudo diarreia). No caso dos idosos, a sensibilidade do centro hipotalâmico da sede encontra-se fisiologicamente diminuída, o que faz com este seja um grupo particularmente predisposto à desidratação.

No sentido de dar resposta a esta situação, a Direcção Geral de Saúde divulgou o plano de contingência para as temperaturas extremas adversas, com o intuito de reforçar o sistema de vigilância e alerta existente,  minimizando os efeitos negativos dos períodos de calor intenso e de frio intenso.
Desde 2003, existe um plano de contingência direccionado para as ondas de calor (Plano de Contingência para as Ondas de Calor (PCOC)), contudo, este ano o plano sofreu uma reestruturação entendida como necessária pela Direcção Geral de Saúde, alargando o tema aos períodos de frio intenso. Desta forma, pretende-se que a vigilância seja realizada de forma continua ao longo do ano, com especial incidência nos períodos com maior probabilidade de ocorrência de temperaturas extremas com impactos negativos para a saúde humana.

Assim, o conhecido PCOC passou a denominar-se Plano de Contingência para as Temperaturas Extremas Adversas, apresentando dois módulos distintos: o Módulo Calor, que incide sobre o período Primavera-Verão; e, o Módulo Frio, que incide sobre o período Outono-Inverno. O módulo do calor é activado anualmente pelo período entre 15 Maio a 30 Setembro.

No seguimento deste plano e no âmbito do módulo do calor, a unidade de saúde pública onde me encontro a estagiar,  planeou uma acção de sensibilização direccionada para idosos, crianças e jovens institucionalizados que envolveu os respectivos elementos da direcção,  técnicos de serviço social e técnicos auxiliares com o objectivo de incitar a adopção medidas para se protegerem do calor.

Para que esta acção fosse mais atractiva e provocasse maior impacto, elaborámos um cartaz ilustrado (Figura 1) e um folheto informativo (Figura 2), que deixámos em cada instituição.

Figura 1 - Cartaz Informativo
 

Figura 2- Folheto Informativo (Clique na imagem para ampliar)

 Esta acção revelou-se bastante rica em termos de partilha de experiências, contacto com a realidade de cada local, com as pessoas e com as suas necessidades. Ao reflectir sobre esta experiência percebi que, ao estudarmos ocorrências de saúde na população, devemos fazê-lo sempre identificando e analisando o contexto onde esta se insere, tendo em conta que as relações entre grupos populacionais e o meio ambiente físico e social onde se inserem têm efeitos sobre os indivíduos. 

Depois de ter visitado diversas instituições privadas de solidariedade social, defini mais concretamente que, sempre que falamos em ambiente, estamo-nos a referir também a dimensões sociais e culturais, uma vez que estas nos ajudam a ter uma percepção dos comportamentos e/ou reacções dos indivíduos face ao meio onde estão integrados e desta forma permite-nos-á adequar as medidas de prevenção a cada realidade, a cada contexto! Somente desta maneira conseguimos estudar de forma completa e integrada a reciprocidade entre os indivíduos e o ambiente.

Da acção levada a cabo pela unidade de saúde pública, resta-me concluir que, ainda que surjam muitas dificuldades, muitos obstáculos e que na realidade a promoção da saúde represente um desafio não tão fácil como parece, que requer paciência e dedicação, continuo sinceramente a acreditar que a capacitação em saúde da população em geral e dos grupos específicos que a integram, é a melhor estratégia para a sua efectividade .

domingo, 3 de julho de 2011

Programa REVIVE - Rede de Vigilância de Vectores - 2011

As alterações climáticas têm representado uma das maiores ameaças ambientais, sociais e económicas que temos enfrentado actualmente.

Estas alterações, responsáveis pelo aumento da frequência e intensidade de temperaturas extremas adversas bem como a ocorrência de eventos climáticos extremos (cheias e secas), constituem um grave risco para a saúde pública humana, quer pelo aumento de doenças associadas à água, aos alimentos e poluição do ar, quer pelo aumento de doenças transmitidas por vectores, que é o tema que pretendo explorar de seguida.

As doenças transmitidas por vectores são doenças infecciosas transmitidas aos seres humanos e a outros vertebrados, por vectores como mosquitos e carraças, infectados por agentes patogénicos. Estas doenças apresentam frequentemente padrões sazonais distintos o que permite estabelecer uma associação ao clima.

Uma vez que o número de agentes etiológicos transmitidos por vectores, assim como a sua área de distribuição e incidência na Europa tem vindo a aumentar nos últimos anos, revela-se fundamental identificar e determinar a sua prevalência para se determinar a potencial incidência destas doenças. Por outro lado, a transmissão destas doenças é influenciada pela presença de reservatórios adequados e também pela existência de populações de vectores e agentes patogénicos em número suficiente para manter a transmissão. A transmissão aos seres humanos exige que exista um contacto com o vector infectado com o parasita, sendo esta exposição influenciada por uma diversidade de factores, respectivamente o comportamento humano, condições sócio‐económicas, práticas de gestão ambiental e cuidados de saúde primários.
 Para fazer frente a esta situação a tónica incide mais uma vez na prevenção, pois a vigilância de vectores permitir-nos-á detectar atempadamente qualquer alteração na abundância e na diversidade, facilitando a tomada de decisão por parte das autoridades de saúde no sentido de serem adoptadas estratégias que contribuam para o controlo das populações de vectores eliminando ou reduzindo o impacto na saúde pública.

De modo a instigar estas acções, foi celebrado um protocolo entre as Administrações Regionais de Saúde (ARS), Direcção-Geral da Saúde (DGS) e Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) / Centro de Estudos de Vectores de Doenças Infecciosas (CEVDI), que desenvolveu a Rede de Vigilância de Vectores – REVIVE, com o intuito de identificar quais as espécies de vectores existentes em Portugal, a sua localização geográfica e a caracterização do seu papel enquanto vector de agentes de doença.  O REVIVE iniciou-se com a vigilância de culicídeos (mosquitos e larvas) em 2008, a nível nacional, sendo em 2011 alargado à vigilância de ixodídeos (carraças).

Desde 2008 já foram identificados aproximadamente 78 mil mosquitos em 44 concelhos, não tendo sido encontradas espécies invasoras ou vírus que provoquem doenças ao homem. Contudo, na Madeira, o vector do dengue foi identificado há alguns anos, revelando-se um mosquito resistente aos insecticidas o que tem dificultado a sua erradicação. Há que enfatizar que embora a presença deste mosquito seja motivo para reforçar a vigilância deste vector, o grande risco associado à sua presença prende-se com o facto do mesmo poder ser portador do virus (Dengue).

Na realidade, não podemos deixar de ter em consideração que o clima em Portugal tem sofrido algumas alterações, caracterizando-se cada vez mais por um clima tropical, o que favorece a presença e proliferação dos mosquitos devido ao calor e humidade. Por estes motivos a vigilância de qualquer alteração no número de espécies revela-se fundamental no sentido de reforçar o controlo e a prevenção.


De uma forma geral, o programa REVIVE será implementado entre Maio e Outubro, apresentando como objectivos:
- Vigilância da actividade de artrópodes hematófagos, caracterização das espécies e da ocorrência sazonal nos locais previamente seleccionados;
- Identificação de agentes patogénicos importantes em saúde pública transmitidos por estes vectores;
- Emissão de alertas no sentido de adequar medidas de controlo, em função da densidade dos vectores e do nível de infecção.

A Unidade de Saúde Pública onde me encontro a estagiar, colabora no desenvolvimento deste programa realizando a:

- Identificação e selecção de locais de colheita em função de zonas consideradas de maior risco;
- Realização da colheita dos vectores (mosquitos adultos e imaturos; carraças);
- Expedição das colheitas efectuadas para o INSA/CEVDI;   


Culicídeos (mosquitos)

Actualmente, conhecem-se cerca de 3500 espécies de sub-espécies de culicídeos (mosquitos) no mundo. As doenças transmitidas por insectos já constituíram graves problemas de saúde pública na Europa, respectivamente a malária, dengue e febre-amarela, que embora tenham sido erradicadas na Europa em meados do século XX, continuam a existir espécies de mosquitos responsáveis pela transmissão destas patologias. Actualmente, na Europa, são conhecidas encefalites virais transmitidas por mosquitos.  Um aspecto importante a ter conta é que apenas as fêmeas têm o aparelho bucal adaptado à sucção de sangue, devendo estas ser alvo de preocupação, pois mais facilmente se tornam vectores de agentes patogénicos.