sábado, 30 de abril de 2011

Comunidade, Autarquias e Saúde- Conclusões dos Workshops


De uma forma muito resumida partilharei de seguida as conclusões mais importantes, resultantes dos workshops dinamizados na tarde do primeiro dia deste evento.

 
 
Workshop 1
 
Como reforçar o trabalho dos cuidados de saúde primários e das autarquias para a obtenção de ganhos em saúde?
 
No final deste workshop foram retiradas as seguintes conclusões:
  • Identificou-se o Conselho Local de Acção Social como sendo a estrutura dinamizadora da rede social;
  • Necessidade de encontrar a intersecção (a intersecção do diagnóstico social e profissional, com a avaliação das políticas e dos recursos existentes, permitir-nos-á encontrar os pontos de acção para a acção conjunta);
  • Pouca participação e envolvimento da comunidade;
  • Importância do papel do conselho na comunidade:
      • Representatividade comunitária social;
      •  Relevância das competências na tomada de decisão.
É por isso fundamental ir ao encontro das diferentes linguagens, afinar os objectivos em comum, fundir as expectativas de todas as partes interessadas numa atitude de pensar, questionar, ouvir, partilhar, agir em parceria, capacitar, avaliar e repensar!
 
Outro aspecto que foi focado no decorrer deste workshop foi a concertação das autarquias e os cuidados de saúde primários, tendo sido identificado como essenciais os seguintes aspectos:
  • envolver a comunidade como agente activo (empowerment),
  • partilhar de resultados,
  • conhecimento dos ingredientes chave para o sucesso dos projectos com impacto positivo na comunidade e conhecer factores de insucesso.
Ao fim ao cabo o papel da autarquia na saúde pública é estabelecer uma relação institucional entre o poder local e a saúde, valorizando o que já é feito. Sendo portanto extremamente importante, conseguir medir os ganhos em saúde e reconhecer a saúde “escondida”, isto é, acções de saúde que são levadas a cabo, mas não são identificadas como tal. Conseguir reconhecer a importância da transversalidade entre a saúde e o ambiente, uma vez que continuamos a tentar segmentar os diferentes problemas quando eles se interligam. Para que tudo isto seja possível, será também importante conseguirmos trabalhar nas diferentes escalas, pois para além do desafio de transformar a pirâmide em rede, revela-se hoje também necessário ter consciência da importância do cruzamento entre as diferentes redes. 
 
Na minha opinião, a grande revelação deste workshop relacionou-se com o facto de ter sido considerado importante o desenvolvimento de um inventário de boas práticas, isto é perceber e conhecer os ingredientes que fizeram ou fazem parte de um sucesso, para que estes possam ser utilizados por outros, basicamente encontramo-nos perante uma estratégia de benchmarking aplicada à área da saúde.


Workshop 2
Sem Título
 







Melhor informação, melhor decisão, melhor saúde: como se articulam e cooperam as diferentes partes interessadas dos níveis nacional, regional e local, para uma melhor observação e planeamento em saúde?  
 
As conclusões apresentadas, decorrentes deste workshop foram as seguintes: 
 
As leis orgânicas dificultam a clarificação dos respectivos papéis, quer ao nível local como regional, deste modo concluiu-se que seria importante:
                       a. Criar um grupo estratégico nacional que defina uma estratégia única;
                       b. Definir quais as necessidades de informação a cada nível,
                       c. Definir e consensualizar termos e conceitos.
Foi também reforçada a necessidade de harmonizar e articular os diferentes níveis, percebendo-se que será de extrema importância saber quem faz o quê. Deste modo, foi estabelecido um compromisso pela Direcção Geral de Saúde na melhoria da qualidade de informação em saúde, pela Administração Central do Sistema de Saúde, na inclusão de indicadores de morbilidade dos utilizadores ao nível dos cuidados de saúde primários e pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge na disponibilização de instrumentos e métodos de avaliação em saúde.
“A verdadeira criatividade e perícia não esta apenas
na disponibilização da informação mas na sua utilização!”
Dr. Harry Burns
 

Workshop 3
 
Pense global, actue local: como coordenar melhor o governo nacional, regional e local para conseguir intervenções locais com melhor desempenho?  
 
think_global_act_localDepois deste workshop percebeu-se que era necessário:
  • Atribuir ao cidadão maior participação activa, poder de decisão, cooperação e avaliação.
  • Trabalhar para uma verdadeira parceria no sistema de saúde.
  • A promoção da cidadania em saúde reforça-se principalmente através do envolvimento público dos jovens, numa dinâmica que integra a produção e partilha de informação e conhecimento. (literacia em saúde).
  • Uma nova cultura de saúde capaz de:
      • Envolver e fomentar a confiança, minimizar as relações assimétricas de poder;
      • Mudar atitudes e comportamentos dos profissionais e cidadãos, promovendo maior autonomia, mais responsabilidade e partilha de competências.

Workshop 4
 
Fazer melhor com o que se tem: como analisar e avaliar as politicas e as estratégias nacionais regionais e locais para a redução das desigualdades em saúde?
  universo
De uma forma geral, a mensagem que reti relacionou-se como facto das autarquias deverem investir no desenvolvimento da saúde, aumentando o capital social, diminuindo a exclusão social, as desigualdades na saúde, promovendo o desenvolvimento socioeconómico, entre outros. Deste modo, é necessário desenvolver um modelo de intervenção local, onde sejam definidos caminhos comuns. Neste âmbito foi focada a rede europeia de cidades saudáveis e a rede social, uma vez que ambas efectuam um trabalho em comum com enfoque em determinantes sociais.
 
O desenvolvimento da rede cidades saudáveis, liderada pelas autarquias, veio incrementar vários projectos locais de promoção da saúde urbana portuguesa. A ambiência foi um factor presente neste projectos no sentido criar ou desenvolver espaços promotores de saúde.

Workshop “Comunidade, Autarquias e Saúde”

cas
Comunidade, Autarquias e Saúde (CAS 2011) foi um workshop que decorreu no âmbito do Plano Nacional de Saúde (PNS) 2011-2016 e na continuidade do Projecto Capacitação e Promoção da Saúde (PROCAPS), desenvolvido pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, em colaboração com a Escola Nacional de Saúde Pública. O seu grande objectivo foi criar um espaço onde fosse possível promover o debate acerca da acção intersectorial e da articulação da saúde, autarquias e comunidades locais, para a concretização de instrumentos de apoio à promoção da saúde.
 
Além de palestrantes nacionais, estiveram presentes conferencistas internacionais que abordaram temas como a redução das desigualdades em saúde, a sustentabilidade das estratégias de promoção da saúde e a capacidade local para a obtenção de ganhos em saúde.
A manhã do dia 28 foi a meu ver bastante rica, e por isso gostaria de partilhar alguns aspectos debatidos durante as comunicações que prenderam a minha atenção e despertaram particularmente o meu interesse.
 
Actualmente estamos a viver novos problemas e desafios, com impacto na saúde, relacionados com vários factores, segundo a Dr.ª Maria da Luz Rosinha da Associação Nacional de Municípios Portugueses:  
    Dr. Maria Luz Rosinha
  • Ainda que a saúde seja um direito constitucionalmente consagrado e uma responsabilidade do Estado, continuam-se a verificar fortes estrangulamentos no acesso à saúde; existe uma evidente diminuição da oferta dos serviços de saúde junto das populações; 
  • Insuficiente oferta dos cuidados de saúde primários;
  • Existe uma lógica de serviço sem rede;
  • Os municípios estão limitados nas suas acções.
 Para além dos pontos atrás referidos, evidenciou que é necessário melhorar a gestão dos nossos recursos, não podendo esta gestão fixar-se apenas na redução de custos, pois desta forma colocaremos em risco acesso e qualidade dos serviços!

 
Dr. Mª Ceu MachadoA Dr.ª Maria do Céu Machado- Alta Comissária da Saúde- chamou a nossa atenção para o facto de continuarmos a direccionar a nossa atenção para a cura, para os tratamentos, e ao fim ao cabo para os hospitais em detrimento dos cuidados de saúde primários ligados aos municípios. Reforçando a ideia de que deverá existir uma maior preocupação e articulação entre o Ministério da Saúde e os Municípios.
 
Existe uma obsessão pela patogénese em detrimento da salutogénese.
Dr.º Harry Burns
 
Na realidade se pararmos para pensar, a própria carta de Alma-Ata, à cerca de trinta e dois anos, já referia a importância dos cuidados de saúde primários.
 
“Os cuidados primários de saúde constituem a chave para que se atinja um nível de saúde que permita levar uma vida social e economicamente produtiva.”
(Carta de Alma-Ata)

 
Dr._Erio_Ziglio
Não poderei deixar de focar a intervenção do Dr.º Erio Ziglio OMS-Europa que partilhou os 5 problemas em saúde, que passarei a divulgar: 
  1. Aumento da iniquidade em saúde;
  2. Necessidades de investimentos mais equilibrados (continuamos mais focados no tratamento e no individuo do que na promoção da saúde e na população);
  3. Reforçar o papel dos sistemas de saúde;
  4. Consistência de acção em saúde em conjunto com os outros sectores (importante a consistência nos diferentes níveis de intervenção em saúde);
  5. Níveis de governança: cooperação (grupo de trabalho conjunto), a coordenação (ajuste de politicas sectoriais), políticas integradas (conjunto de novas políticas);
RowingRace4Penso que de uma forma geral a mensagem principal consistiu em focar a importância e o dever de todos os sistemas intervenientes caminharem no mesmo sentido e em paralelo. Ser especialista numa determinada área é importante, mas para além disso temos que conseguir pensar intersectorialmente, promover o trabalho intersectorial, criar incentivos, considerando que o nível local detém uma grande responsabilidade.
 
 
IMGP00065 Lições em saúde por Dr.º Erio Ziglio:
  1. Maior capacidade (nacional/local), ou seja, aumentar o know-how dos profissionais;
  2. Gerir sistemas de uma forma integrada e não apenas promover intervenções isoladas;
  3. Diminuir factores de risco, diminuir as condições de rico e maximizar “assets”;
  4. Reposicionar a saúde em termos de desenvolvimento no nível local;
  5. Maximizar os recursos da comunidade local.
Devo realçar que o Dr. Erio Ziglio (OMS), trouxe-nos uma mensagem que a meu ver é bastante pertinente e importante, isto porque fez questão de deixar bem explícito que na grande maioria das vezes vivemos focados nos problemas, ou seja, naquilo que não temos, ao invés de nos focarmos nas nossas capacidades.
 
Dr. Harry_BurnsDa mesma forma, o Dr.º Harry Burns, Director Geral da Saúde da Escócia, evidenciou que somos detentores de uma abordagem baseada em défices de saúde, focada nos problemas e no desenvolvimento de serviços para colmatar estes problemas. Mostrou que de facto uma abordagem com base nos “assets” (assets approach), tem revelado um grande potencial, pois verifica-se que quando nos focamos nos bens da comunidade, em vez de nos focarmos naquilo que elas não têm, ou seja, nas suas necessidades a capacidade dessa comunidade para lidar com essas necessidades é significativamente maior. 
 
Confesso que desconhecia esta abordagem e  parece-me inclusivé bastante difícil a sua tradução, ainda que seja fácil de perceber, torna-se difícil de explicar! Assets representa um “activo” de saúde, é qualquer factor ou recurso que aumenta a capacidade dos indivíduos, comunidades e populações a manter e sustentar a saúde e o bem-estar. Estes “activos” podem operar ao nível do indivíduo, da família ou da comunidade como factores de protecção e promoção que capacitam os indivíduos a lidar com os stressores a que são expostos ao longo da sua vida.
 
Por este motivo, o Dr.º Harry Burns defende que esta visão torna a intervenção local mais eficiente, uma vez que está mais próxima da comunidade. Este foi outro aspecto importante que foi discutido, o de conseguirmos ir ao encontro da população e perceber na realidade as suas necessidades, sendo que não conseguiremos ir ao encontro da população se não trabalharmos com a mesma em proximidade.
 
trabalho-de-equipe1A tónica encontra-se pois na redução das desigualdades em saúde através de uma abordagem transversal. Estamos realmente perante um sistema complexo, onde ninguém tem a resposta correcta, as pessoas têm informação, têm conhecimento e por isso, têm a chave para produzir melhores ideias. Contudo, muitas vezes perdemos tempo a tentar provar que a nossa ideia é melhor que a do outro, sem conseguirmos perceber que em conjunto somos capazes de produzir melhores ideias. É por isso necessário combater lógicas corporativistas e descentralizar o poder, pois sistemas de condução centralizada não são eficazes, uma vez que o poder de decisão fica longe das populações.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Segurança Alimentar em Feiras e Eventos Temporários

Feira_Durante a semana que passou, surgiu um desafio para mim muito aliciante e apetitoso! A essência deste desafio fixou-se em estimular e promover uma política de segurança alimentar em feiras/eventos temporários onde são comercializados géneros alimentícios.
As feiras são comuns em todo o mundo, tendo sido desenvolvidas com o objectivo de permitir ao produtor rural oferecer ao consumidor os produtos da sua actividade. Na maioria das vezes, as feiras realizam-se em praças, vias públicas e recintos para eventos, tornando-se por isso num ponto activo de intercâmbio comercial.
 
Logicamente que este tipo de comércio, pelas características que lhe são inerentes, pode acarretar riscos à saúde da população, já que os produtos comercializados podem ser facilmente contaminados por microrganismos patogénicos. Destes riscos destacam-se as condições pouco adequadas do local onde são preparados os alimentos e também a falta de conhecimento de boas práticas de higiene e fabrico. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os problemas de saúde pública mais comummente encontrados neste tipo de comércio são:
final- Inadequadas infra-estruturas e serviços básicos, como o abastecimento de água potável  e o a cesso a instalações sanitárias próprias;
- Desconhecimento das medidas  básicas de segurança e higiene alimentar.

Por outro lado, dados da OMS revelaram que 26% das causas de contaminação dos alimentos estão relacionadas com os manipuladores, sendo identificada ummania relação directa entre as inadequadas praticas de higiene pessoal e a ocorrência de doenças de origem alimentar. (Good Worker Health and Hygiene Practices, 2007
Posto tudo isto e partindo do princípio que as infra-estruturas podem muitas vezes não corresponder ao ideal em termos de segurança alimentar, o nosso grande objectivo é acompanhar in loco a instalação destes comerciantes, ou seja, avaliar as condições higio-sanitárias dos espaços antes do evento iniciar e posteriormente, durante a laboração.
Além dos cuidados de higiene dos alimentos, dos utensílios e equipamentos, é igualmente importante focar a importância da higiene do espaço onde são preparados e distribuídos os géneros alimentícios, pois o resultado final do produto irá depender da integridade e segurança desta cadeia. Apesar de sabermos à partida que nem sempre é possível ter um local perfeito para prestar estes “serviços-móveis”, tal situação não deve ser motivo para baixar os braços, pois acreditamos que as adaptações são possíveis, e que estas podem melhorar a organização dos espaços ao ponto destes permitirem o desenvolvimento de um excelente trabalho, sem riscos para o produto.

food-safety Deste modo, criámos um Guia de Boas Práticas de Higiene e Segurança Alimentar para este tipo de eventos, o qual será entregue a cada operador, no momento da vistoria. No decorrer da mesma, pretende-se fazer uma breve exposição do guia de acordo com as não conformidades encontradas. A realização destas vistorias, tem como objectivo optimizar a performance de cada estabelecimento, analisando cada caso particularmente. Encontramo-nos de facto mais focados no âmbito educativo e não na vertente fiscalizadora, pois defendemos que uma das melhores formas para assegurar a qualidade e segurança alimentar são a formação e a prática dos manipuladores e não a penalização.

Devido ao reduzido tempo do evento, pretende-se no terreno, evitar situações de risco e garantir que as condições de higiene e segurança alimentar sejam alcançadas com distinção por todos, mesmo considerando os aspectos mais difíceis de alterar, tentaremos arranjar soluções exequíveis!

E porque valorizamos o conhecimento de todos os profissionais desta área e o seu empenho, é nosso intento premiar aqueles que com responsabilidade e esforço mantiveram e respeitaram, desde o início, todos os requisitos com mérito.

Neste momento, encontramo-nos a desenvolver e a planear meticulosamente a nossa intervenção, sendo pertinente focar que esta é uma iniciativa que será desenvolvida pela Unidade de Saúde Pública em parceria com a Câmara Municipal e implementada por quatro alunos estagiários de I Curso de Saúde Ambiental de Beja!

Aquando da realização deste projecto, divulgarei as peripécias e a avaliação desta intervenção. Por motivos de confidencialidade, não serão identificados os locais e o evento a que se refere esta intervenção.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Primeiros Socorros e Segurança Infantil

A Escola, ao constituir-se como um espaço seguro e saudável, está a facilitar a adopção de comportamentos mais saudáveis, encontrando-se por isso numa posição ideal para promover e manter a saúde da comunidade educativa e da comunidade envolvente.

Segundo o Relatório de Avaliação Sobre Segurança Infantil (2009), as lesões e os traumatismos são a primeira causa de morte das crianças entre os 0 e os 19 anos em Portugal. Em 2005, 276 crianças e adolescentes desta faixa etária morreram devido a esta causa. Este relatório, elaborado no âmbito do Projecto Child Safety Action Plan, determinou como ponto de partida o estabelecimento de metas para a redução das mortes e incapacidades resultantes de lesões em crianças e adolescentes em Portugal. Simultâneamente foi reconhecida a necessidade de incrementar o desenvolvimento de competências, em termos de especialização técnica em prevenção, de profissionais que directa ou indirectamente lidam com crianças.

Actualmente verifica-se que a grande maioria do pessoal docente e não docente, não está preparado para lidar com este tipo de ocorrências, desconhecendo muitas vezes como prestar devidamente os primeiros socorros.

Saber como agir perante quedas com traumatismos, controlar hemorragias e conservar um dente para que possa vir a ser implantado, são situações comuns nos estabelecimentos de ensino com as quais todos os envolvidos deverão saber lidar. É deveras importante que professores e assistentes operacionais estejam preparados para prestar primeiros socorros na escola.

Identificada esta necessidade e por forma a alterar esta realidade a unidade de saúde publica decidiu planear e organizar uma acção de formação sobre primeiros socorros na escola. O nosso grande objectivo será preparar tecnicamente pessoal docente e não docente para o atendimento imediato e eficaz de uma criança acidentada na escola ou vítima de doença súbita, através da aquisição de conhecimentos na área de primeiros socorros.

Não desvalorizando a importância de adquirir uma cultura de segurança que perdure por toda a vida, devemos também estar sensibilizados para agir e evitar as consequências, por vezes graves e definidas dos acidentes.
Penso que, ainda que muitas acções tenham vindo a ser desenvolvidas ao nível da saúde escolar, parece-me que existe ainda muito trabalho a desenvolver no sentido de habilitar a comunidade educativa para agir em prol da segurança, higiene e saúde na escola!

Ao longo do meu percurso, ainda que muito bebé, e com a ajuda dos profissionais que tenho vindo a acompanhar, tenho-me apercebido que só é dada atenção devida à saúde quando esta é lesada, e por isso é frequente encontrar-se nas escolas, entre outros aspectos:
  •   Caixas de primeiros socorros deficientemente equipadas, muitas vezes em locais de difícil acesso.
  •  A existência de plano de emergência, mas o desconhecimento do mesmo por parte da comunidade escolar.
  •  Inexistência de monitorização dos acidentes ocorridos na escola e no espaço periescolar.
Obviamente não descurarei as questões de segurança destes espaços, pois constituem factores de risco que comprometem frequentemente a saúde dos seus ocupantes, mas na verdade todas estas condições se interligam e coexistam, dando por isso espaço para mais uma reflexão que abordarei noutra publicação.

Dica:
O que deve conter uma caixa de primeiros socorros?

Clique na imagem para ampliar.
Para além do conteúdo aqui referido, será desejável a existência de manta térmica e de um saco térmico para gelo.

Documentos e sítios de Interesse:

sábado, 9 de abril de 2011

Prevenção de Quedas Domésticas com Idosos


Enquanto deambulava entre momentos e pensamentos, reflexões e introspecções dei comigo a congeminar sobre ética e a profissão de técnico de saúde ambiental. Provavelmente estes ainda serão os reflexos da unidade curricular que realizei no “intervalo” entre o primeiro e o segundo estágio que me encontro a efectuar. Desta unidade curricular houve uma ideia geral que me marcou, respectivamente, “colocarmo-nos no lugar do outro”. Tal ideia nem sempre é prioritária no nosso pensamento, pois é da nossa própria natureza zelar pelos nossos próprios interesses antes dos interesses dos outros. Contudo, ainda que não sendo algo inato, penso que é treinável e considero que este tipo de exercício pode representar uma mais valia no pensamento de um profissional de saúde ambiental, uma vez que é nossa função; zelar pelo bem-estar geral, olhar pelos outros no sentido de garantir que as condições de higiene, segurança e saúde sejam asseguradas ao maior número. Esta ginástica mental que o pensamento ético nos permite desenvolver, admite de facto, que nos coloquemos no papel do outros, que recriemos situações e que sejamos mais eficazes a identificar e avaliar factores de risco. 

Toda esta reflexão surge após o trabalho que foi desenvolvido durante a segunda semana de estágio acerca de um tema que me é sensível: os idosos.
Neste âmbito, encontra-se a ser desenvolvido um plano de acção para a promoção da saúde de pessoas idosas sendo um dos seus eixos melhorar as condições da habitação para prevenir acidentes e quedas nos idosos. Este plano surgiu após se ter identificado, através de um estudo diagnóstico, que 58% dos idosos é afectado por quedas dentro da habitação.
Os nossos contributos realizaram-se no âmbito do desenvolvimento de uma check-list que pretendia avaliar as condições de habitação dos idosos, respectivamente, identificar factores de quedas e acidentes na habitação. Durante o seu desenvolvimento, percebi que muitas vezes podemos incorrer no erro de não nos conseguirmos colocar na realidade de cada situação e por sua vez não conseguimos avaliar realmente aquilo que pretendemos. 
  
No decorrer desta semana realizamos também uma vistoria a um lar de idosos que me permitiu apurar algumas questões sobre o assunto, as quais passarei a partilhar mais à frente.

O envelhecimento da população portuguesa tem vindo a acentuar-se e coloca à sociedade em geral, desafios para os quais não estamos preparados. É hoje um desafio envelhecer com saúde, autonomia e independência, sendo por isso fundamental “reduzir as incapacidades, numa atitude de recuperação global precoce e adequada às necessidades individuais e familiares, envolvendo a comunidade, numa responsabilidade partilhada, potenciadora dos recursos existentes e dinamizadora de acções cada vez mais próximas dos cidadãos.

O processo de envelhecimento é caracterizado por alterações “normais” que tornam os indivíduos mais susceptíveis a agentes ou situações específicas na habitação. Os idosos têm exigências de saúde mais críticas comparativamente a outros grupos populacionais, sendo inclusivé conhecida a sua susceptibilidade a acidentes domésticos, particularmente quedas.

Paralelamente a este quadro a solidão, depressão e mau estar social são sentimentos que muitas vezes invadem sem licença as suas vidas. É por isso de importância extrema que os idosos não estejam isolados do resto da comunidade. Contudo, tem-se verificado que a existência de barreiras arquitectónicas diminuem a capacidade individual do idoso e conduzem a esta realidade, afectando as suas atitudes, auto-estima, auto-interesse, etc. Mesmo assim, considero que ao favorecermos a permanência do idoso na sua própria habitação pelo maior tempo possível, mantendo-o na sua zona de conforto, consegue-se estreitar a ligação com a sua história sendo desta forma mais fácil promover a sua autonomia.

Como já se percebeu, o espaço físico pode agir positiva ou negativamente sobre o individuo. Ao mesmo tempo que o espaço pode incentivar e proteger, pode por outro lado constituir um risco e deprimir os indivíduos que nele permanecem, facilitando a emergência de certas doenças, sejam elas físicas ou mentais.

Dentro desta linha de pensamento, penso que possa ocorrer uma inversão da realidade por parte do próprio indivíduo se considerarmos a existência de duas perspectivas distintas: o idoso não adaptado ao ambiente ou o ambiente não adaptado ao idoso. A inversão a que me refiro prende-se com o facto de que, uma vez o ambiente não adaptado ao idoso pode levá-lo a assumir-se como um problema!

O ambiente físico pode assim representar um factor de risco para a saúde uma vez desadaptado às suas dificuldades e necessidades, influindo directamente na sua independência e por sua vez nas suas actividades diárias. Claro está que uma organização e planeamento adequado do espaço físico proporcionará ao idoso uma maior autonomia e segurança dentro do seu lar.

Será então aqui que devemos intervir, pois o envelhecimento não é um problema, mas uma parte natural do ciclo de vida, devendo ele ser encarado como uma oportunidade para viver de forma saudável e autónoma, o maior tempo possível!

Outro aspecto que gostaria de focar, e agora referindo-me à realidade dos lares de idosos de uma forma geral, ficou para mim bastante presente que deverá ser na fase de projecto que todos estes aspectos deverão ser considerados, uma vez que depois disso as alterações são bastante mais dispendiosas e por vezes até impossíveis de realizar. Estes espaços não deverão ser encarados como espaços físicos apenas, mas antes como ambientes que devem poder ser personalizados, construídos e projectados considerando o bem-estar daqueles que o irão ocupar!

Partilho o folheto informativo: Prevenção de Quedas na Habitação.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Dia Mundial da Saúde

Consulte o Folheto.

A cada ano, a Organização Mundial de Saúde selecciona um tema chave sobre saúde, com o intuito de encorajar as pessoas de todas as idades e origens à realização de eventos que destacam a significância de determinadas questões de saúde para o bem saúde e bem-estar. Este dia oferece uma oportunidade única para que as comunidades de todo o mundo se reúnam num dia direccionado para a promoção acções que visem melhorar a saúde de todos.

Conforme o estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) o Dia Mundial da Saúde, é dedicado este ano ao tema "A resistência microbiana e sua disseminação global", uma tema bastante importante marcado pelos contornos da globalização, com uma incidência específica nesta área bem definida e motivo para profunda reflexão e empenhamento.

A resistência antimicrobiana não é um problema novo, mas aquele que está se tornando mais perigoso; esforços urgentes e consolidadas são necessários para evitar a regressão à era pré-antibiótica.

No Dia Mundial da Saúde 2011, a OMS lança um pacote de políticas de seis pontos como objectivo de combater a propagação da resistência antimicrobiana.

domingo, 3 de abril de 2011

Vigilância Sanitária da Água de Consumo Humano

Gradualmente tem vindo a aumentar a importância, na nossa sociedade, de assegurar a qualidade da água para consumo humano quer pela sua influência na saúde quer pela necessidade de salvaguardar e promover a sua utilização de uma forma sustentável.

Na realidade, o desenvolvimento e expansão das sociedades actuais exigem cada vez mais uma maior necessidade de água. Esta necessidade torna mais complexo e dispendioso o seu fornecimento em quantidade e qualidade. De facto um dos principais problemas que surgiram neste século é a crescente contaminação da água, de tal maneira que na maioria das vezes já não podemos consumi-la no seu estado natural.

Fonte: EPAL
Para fazer frente a esta situação, a vigilância em saúde ambiental, consiste num conjunto de acções adoptadas continuamente para garantir que a água consumida pela população seja própria para consumo.

Segundo o Decreto Lei n.º 306/2007 de 27 de Agosto, que estabelece o regime da qualidade da água destinada ao consumo humano, é da responsabilidade da autoridade de saúde assegurar a vigilância sanitária da qualidade da água para consumo humano, fornecida pelas entidades gestoras,  devendo simultaneamente avaliar o risco para a saúde humana da qualidade da água destinada ao consumo humano.  
O grande objectivo deste diploma consiste ao fim ao cabo em proteger a saúde humana dos efeitos nocivos resultantes da eventual contaminação da água e assegurar o seu fornecimento de uma forma salubre, limpa e desejavelmente equilibrada na sua composição.

O Programa de Vigilância Sanitária de Água para Consumo Humano (ACH) desenvolve-se segundo 3 vertentes:

Higio-sanitária e Tecnológica – Acções de avaliação das condições de higiene e segurança a nível das instalações e do funcionamento e a análise das medidas de gestão e manutenção da qualidade da água e dos equipamentos

Analítica – Realização de análises complementares ao Programa de Controlo da Qualidade da Agua (PCQA) e de outras acções necessárias para a avaliação da qualidade da água para consumo humano.
Envolve:
- a colheita de amostras para análise (microbiológica, físico-química ou outras)
- a verificação do cumprimento do programa de controlo da qualidade da água distribuída.

Epidemiológica – Permite a comparação e interpretação da informação obtida através dos programas, com recurso a dados de caracterização do estado de saúde dos consumidores, sendo a necessidade e a definição destes estudos da competência das autoridades de saúde de acordo com cada realidade local.


Acções de Vigilância Sanitária (VS) e Articulação com a Entidade Gestora (EG)


*VP- Valores paramétricos                *PCQA- Programa de Controlo da Qualidade da Agua
*AS- Autoridade de Saúde
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Durante a primeira semana de estágio efectuei em conjunto com a técnica de saúde ambiental, colheitas de água para consumo humano, onde percebi na realidade a importância da representatividade da amostra, pois a qualidade da colheita vai determinar a qualidade da informação analítica e portanto, é fundamental realizá-las de acordo com os procedimentos. Deste modo é garantido que os parâmetros a analisar possuam o mesmo valor que no sistema a estudar, e assim conseguiremos levar a cabo acções consentâneas com os resultados obtidos.

  
Para terminar, gostaria ainda de partilhar uma reflexão que realizei após esta intervenção, pois através do contacto que tive com as pessoas durante as colheitas, apercebi-me que ainda existe a ideia geral de que, desde que a água se apresente incolor, insípida (sem sabor) e inodora (sem cheiro), está própria para consumo. É também por este motivo que, mesmo com os alertas lançados, as pessoas  continuam a abastecer-se em fontes e fontanários, não ligados à rede pública, onde a qualidade dessa água pode colocar a sua saúde em risco. E falando em risco, parece-me este o momento ideal para caracterizar os dois tipos de riscos associados ao consumo de água imprópria para consumo, que a meu ver poderá potenciar ou mitigar este tipo de comportamento.

- Risco imediato ou a curto prazo:  geralmente associado à contaminação microbiana e portanto os seus efeitos costumam ser imediatos.

- Risco a médio ou longo prazo: associado ao consumo regular e contínuo de água contaminada por compostos químicos, e portanto tem um efeito cumulativo no organismo, não sendo os seus efeitos visíveis no curto prazo.

Posto isto, parece-me que associada a esta realidade está a percepção de risco de cada um, que se prende com a estimativa subjectiva do risco entre situações de efeitos retardados e imediatos, ou seja de um modo geral, as pessoas que não “vêem” ou sentem os efeitos do consumo de água contaminada não percebem este risco como sendo real.

É fundamental que continuemos a reunir os nossos esforços no sentido de informar e formar a população para estas questões, pois todos sabemos que a mudança de comportamento não é tarefa fácil e exige dos profissionais envolvidos nestas questões o desenvolvimento de acções integradas, direccionadas e bem estruturadas!

Documentos úteis: