sábado, 9 de abril de 2011

Prevenção de Quedas Domésticas com Idosos


Enquanto deambulava entre momentos e pensamentos, reflexões e introspecções dei comigo a congeminar sobre ética e a profissão de técnico de saúde ambiental. Provavelmente estes ainda serão os reflexos da unidade curricular que realizei no “intervalo” entre o primeiro e o segundo estágio que me encontro a efectuar. Desta unidade curricular houve uma ideia geral que me marcou, respectivamente, “colocarmo-nos no lugar do outro”. Tal ideia nem sempre é prioritária no nosso pensamento, pois é da nossa própria natureza zelar pelos nossos próprios interesses antes dos interesses dos outros. Contudo, ainda que não sendo algo inato, penso que é treinável e considero que este tipo de exercício pode representar uma mais valia no pensamento de um profissional de saúde ambiental, uma vez que é nossa função; zelar pelo bem-estar geral, olhar pelos outros no sentido de garantir que as condições de higiene, segurança e saúde sejam asseguradas ao maior número. Esta ginástica mental que o pensamento ético nos permite desenvolver, admite de facto, que nos coloquemos no papel do outros, que recriemos situações e que sejamos mais eficazes a identificar e avaliar factores de risco. 

Toda esta reflexão surge após o trabalho que foi desenvolvido durante a segunda semana de estágio acerca de um tema que me é sensível: os idosos.
Neste âmbito, encontra-se a ser desenvolvido um plano de acção para a promoção da saúde de pessoas idosas sendo um dos seus eixos melhorar as condições da habitação para prevenir acidentes e quedas nos idosos. Este plano surgiu após se ter identificado, através de um estudo diagnóstico, que 58% dos idosos é afectado por quedas dentro da habitação.
Os nossos contributos realizaram-se no âmbito do desenvolvimento de uma check-list que pretendia avaliar as condições de habitação dos idosos, respectivamente, identificar factores de quedas e acidentes na habitação. Durante o seu desenvolvimento, percebi que muitas vezes podemos incorrer no erro de não nos conseguirmos colocar na realidade de cada situação e por sua vez não conseguimos avaliar realmente aquilo que pretendemos. 
  
No decorrer desta semana realizamos também uma vistoria a um lar de idosos que me permitiu apurar algumas questões sobre o assunto, as quais passarei a partilhar mais à frente.

O envelhecimento da população portuguesa tem vindo a acentuar-se e coloca à sociedade em geral, desafios para os quais não estamos preparados. É hoje um desafio envelhecer com saúde, autonomia e independência, sendo por isso fundamental “reduzir as incapacidades, numa atitude de recuperação global precoce e adequada às necessidades individuais e familiares, envolvendo a comunidade, numa responsabilidade partilhada, potenciadora dos recursos existentes e dinamizadora de acções cada vez mais próximas dos cidadãos.

O processo de envelhecimento é caracterizado por alterações “normais” que tornam os indivíduos mais susceptíveis a agentes ou situações específicas na habitação. Os idosos têm exigências de saúde mais críticas comparativamente a outros grupos populacionais, sendo inclusivé conhecida a sua susceptibilidade a acidentes domésticos, particularmente quedas.

Paralelamente a este quadro a solidão, depressão e mau estar social são sentimentos que muitas vezes invadem sem licença as suas vidas. É por isso de importância extrema que os idosos não estejam isolados do resto da comunidade. Contudo, tem-se verificado que a existência de barreiras arquitectónicas diminuem a capacidade individual do idoso e conduzem a esta realidade, afectando as suas atitudes, auto-estima, auto-interesse, etc. Mesmo assim, considero que ao favorecermos a permanência do idoso na sua própria habitação pelo maior tempo possível, mantendo-o na sua zona de conforto, consegue-se estreitar a ligação com a sua história sendo desta forma mais fácil promover a sua autonomia.

Como já se percebeu, o espaço físico pode agir positiva ou negativamente sobre o individuo. Ao mesmo tempo que o espaço pode incentivar e proteger, pode por outro lado constituir um risco e deprimir os indivíduos que nele permanecem, facilitando a emergência de certas doenças, sejam elas físicas ou mentais.

Dentro desta linha de pensamento, penso que possa ocorrer uma inversão da realidade por parte do próprio indivíduo se considerarmos a existência de duas perspectivas distintas: o idoso não adaptado ao ambiente ou o ambiente não adaptado ao idoso. A inversão a que me refiro prende-se com o facto de que, uma vez o ambiente não adaptado ao idoso pode levá-lo a assumir-se como um problema!

O ambiente físico pode assim representar um factor de risco para a saúde uma vez desadaptado às suas dificuldades e necessidades, influindo directamente na sua independência e por sua vez nas suas actividades diárias. Claro está que uma organização e planeamento adequado do espaço físico proporcionará ao idoso uma maior autonomia e segurança dentro do seu lar.

Será então aqui que devemos intervir, pois o envelhecimento não é um problema, mas uma parte natural do ciclo de vida, devendo ele ser encarado como uma oportunidade para viver de forma saudável e autónoma, o maior tempo possível!

Outro aspecto que gostaria de focar, e agora referindo-me à realidade dos lares de idosos de uma forma geral, ficou para mim bastante presente que deverá ser na fase de projecto que todos estes aspectos deverão ser considerados, uma vez que depois disso as alterações são bastante mais dispendiosas e por vezes até impossíveis de realizar. Estes espaços não deverão ser encarados como espaços físicos apenas, mas antes como ambientes que devem poder ser personalizados, construídos e projectados considerando o bem-estar daqueles que o irão ocupar!

Partilho o folheto informativo: Prevenção de Quedas na Habitação.

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