sábado, 25 de junho de 2011

Vigilância Sanitária das Zonas Balneares Interiores

Os técnicos de saúde ambiental vão à praia não para desfrutar da combinação perfeita entre água, areia, sol e toalha, mas antes para promover acções que garantam que as zonas balneares não apresentem riscos para os seus utilizadores, quer pela qualidade da água, assim como pelas condições higio-sanitárias da zona envolvente. 

O programa de vigilância sanitária das zonas balneares interiores visa dar cumprimento ao preconizado no Decreto-Lei n.º 135/2009, de 3 de Junho e nas orientações publicadas pela Direcção-Geral de Saúde na Norma 009/2011 de 28/04

«Águas Balneares» são as águas superficiais, quer sejam interiores, costeiras ou de transição, tal como definidas na Lei da Água, aprovada pela Lei n.º 58/2005, de 29 de Dezembro, em que se preveja que um grande número de pessoas se banhe e onde a prática balnear não tenha sido interdita ou desaconselhada de modo permanente.
Decreto-Lei n.º 135/2009

O referido programa apresenta como principais finalidades:
- Actualizar a caracterização e a avaliação das condições de segurança e funcionamento das instalações envolventes das zonas balneares.
- Avaliar o risco das zonas balneares.
- Mitigar os riscos para a saúde dos seus utilizadores. 

Cabe aos Serviços de Saúde planear, coordenar e executar o programa de vigilância sanitária sendo da sua responsabilidade a realização de colheitas e o levantamento e caracterização das zonas envolventes.
De modo a cumprir as acções de Vigilância Sanitária integradas nas vertentes tecnológica, analítica e epidemiológica temos na: 

VERTENTE ANALÍTICA:  
- Realização de colheitas de água para análise: permitir-nos-á realizar a avaliação do risco para a saúde associado à utilização daquela água para  fins balneares, nomeadamente no que se refere a interdições. 

Procedimentos de amostragem para análise microbiológica
Parâmetros: Escherichia coli e Enterococos intestinais
IMGP0001
IMGP0004
Material necessário à realização da colheita
A amostra deve ser recolhida 30 cm abaixo da superfície da água, a uma profundidade no mínimo de 1m.
IMGP0006 IMGP0009
Mergulhar o frasco verticalmente, com gargalo para baixo, até uma profundidade de 30 cm
Retirar o frasco, fechando-o de seguida. O frasco não deve ficar completamente cheio (mínimo 2 cm de ar)
IMGP0010  CLORIMETR0
Identificar a amostra
Medição do pH e Temperatura
 IMGP0015
Medição da turvação da água através do turbidímetro. **
** A turbidez da água é causada pela presença de diversos materiais em suspensão, tais como, lamas, areias, matéria orgânica e inorgânica, plâncton e outros organismos microscópicos.
A presença destes materiais em suspensão numa amostra de água reduzem a transparência da água, devido a presença de material em suspensão, dificultando passagem da luz pela solução. A turbidez é a expressão desta propriedade óptica e é indicada em termos de unidades de turbidez (NTU – Nephelometric Turbity Unit).
Procedimento de amostragem de cianobactérias

Garrafa Van Dorn
Para realizar a colheita de cianobactérias utilizamos a garrafa de Van Dorn com capacidade até 2,5 L, que permite recolher amostras de água a diversas profundidades. O seu funcionamento consiste em mergulhar a garrafa aberta nas duas extremidades e após atingir a profundidade desejada, lançamos o testemunho que fecha hermeticamente as duas extremidades. (Visualizar vídeo 1)
As cianobactérias, também conhecidas por algas azuis, são um grupo de seres vivos que ocorrem especialmente em águas com velocidade de corrente baixa ou nula, como é o caso de lagoas e albufeiras (água superficiais). Estas algas constituem um risco para a saúde pública, pela utilização de água contaminada para consumo ou em actividades de recreio. Na ausência de tratamento adequado para a retenção dos microrganismos e das suas toxinas, estas são responsáveis pela ocorrência de surtos de doenças agudas ou crónicas, dependendo da dose e tempo de exposição. A saúde humana pode ser afectada por inalação de cianobactérias ou de esporos, pela ingestão de água ou contacto directo. 

Dicas para a identificação ou suspeita de cianobactérias através inspecção visual :
-  Cor da água verde intensa, azul-esverdeada, ou verde-acastanhada;
- Formação de uma camada seca de cor azul ou verde nas margens;

Vídeo 1 – Procedimentos de Colheita

Disco de Secchi - Determinação de Transparência
É um disco especialmente construído para medir a transparência daIMGP0022 água em oceanos, lagos, rios, etc. Este dispositivo, consiste num disco com 20 cm de diâmetro dividido em quadrantes alternantes brancos e pretos que se encontra preso a uma corda marcada de 0,5 em 0,5m. Ao mergulharmos o disco de Secchi ao longo da coluna de água conseguimos determinar a que profundidade é que o disco deixa de ser visível (profundidade de Secchi). Quanto maior for a transparência da água, maior é a profundidade a que o disco deixa de ser visível. A profundidade de Secchi relaciona-se directamente com a transparência e inversamente com a turbidez da água.

Medição de Oxigénio Dissolvido
IMGP0027 A presença de oxigénio dissolvido é fundamental ao metabolismo aeróbio dos organismos aquáticos,  bem como às inúmeras reacções químicas essenciais ao funcionamento de uma albufeira, sendo que a sua distribuição afecta fortemente a solubilidade de muitos nutrientes inorgânicos.
Por este motivo importa medir a sua presença na água, sendo ele mais um elemento que nos ajuda a avaliar a sua qualidade.


Esta actividade envolve o preenchimento do Modelo A – Ficha de Campo :

Objectivos:
- Levantamento das condições atmosféricas no momento da colheita da amostra de água balnear, 
- Observação visual e/ou olfactiva da água e da areia





VERTENTE TECNOLÓGICA:
·        - Caracterizar a zona balnear e avaliar as condições de segurança e funcionamento das instalações envolventes.
·        - Avaliar as condições estruturais e de funcionamento e promoção da correcção das não conformidades identificadas.

Esta actividade envolve o preenchimento do Modelo B – Avaliação da Zona Envolvente
 
Objectivos:
·        - Avaliar condições sanitárias e de funcionamento da zona balnear: salubridade, segurança e estruturas de apoio e levantamento de fontes de poluição.
·        -Cumprimento dos requisitos de higiene e segurança alimentar, dos locais de trabalho e locais de atendimento público.
Nota: Deve realizar-se no início e a meio da época balnear ou sempre que as situações ambientais e/ou epidemiológicas o justificarem.


E também o preenchimento do Modelo C – Caracterização da Zona Balnear

Objectivos:
·        - Avaliar as condições higio-sanitárias das zonas balneares, concluindo com a atribuição de um índice sanitário.
·        - Fornecer uma listagem de aspectos que deverão ser alvo de intervenção, para melhorar as condições de salubridade, segurança e de infra-estruturas de apoio aos utentes, através de acções complementares.

Nota: Este modelo deve ser preenchido de 5 em 5 anos e sempre que uma nova zona balnear integre pela 1.ª vez o programa.

VERTENTE EPIDEMIOLÓGICA: envolve a realização de estudos orientados para a avaliação de factores de risco, quando justificados pelos dados ambientais ou epidemiológicos.

Após todas as novas aprendizagens que realizei esta semana, o meu tempo de reflexão levou-me a pensar que os técnicos de saúde ambiental, no seu exercício profissional estão expostos a imensos factores de riscos, quer pela sua intervenção em locais insalubres ou outras situações de risco, quer pela realização de certos trabalhos sob condições desfavoráveis para a saúde. E porque a compensação de risco é um fenómeno que depende da percepção de risco de cada individuo, em que cada um tende a ajustar o seu comportamento em função dessa percepção, nem mesmo os profissionais que trabalham e são conhecedores destas temáticas se livram de fazer este tipo de compensação. Assim sendo, relembro que para conseguirmos promover a segurança dos outros temos que primeiramente zelar pela nossa própria segurança!! 

sábado, 18 de junho de 2011

Avaliação das Condições de Segurança, Higiene e Saúde dos Estabelecimentos de Educação e Ensino

Mundo doenteNuma época onde a sociedade de risco assume uma expressão considerável, denota-se um aumento da preocupação relativa à protecção e melhoria das condições de saúde. Neste quadro, um tanto ou  quanto vasto, inserem-se as crianças e jovens não só por se encontrarem em fase de crescimento como também por apresentarem uma maior vulnerabilidade a factores de risco ambientais. Sendo na escola onde as crianças e jovens passam a maior parte do seu tempo, esta deve constituir-se como um espaço seguro e saudável, por forma a facilitar a adopção de comportamentos mais saudáveis, sendo ela um local privilegiado no processo de aquisição de estilos de vida saudáveis, favorecidos pelas acções realizadas pelas equipas de saúde escolar.

Estas equipas desempenham um papel fundamental na gestão dos determinantes da saúde respectivamente na comunidade educativa, contribuindo desse modo para a obtenção de ganhos em saúde, a médio e longo prazo, na população em geral.

No contexto da intervenção de Saúde Escolar, inserem-se as actividades de avaliação das condições de Segurança, Higiene e Saúde das escolas, sendo da competência dos serviços de Saúde Pública fazer a vigilância destas condições e sempre que se verifiquem anomalias, devem ser propostas as devidas correcções às entidades a quem é atribuída competência para a sua manutenção.

escola A escola, pela sua localização, salubridade, conforto, segurança, tipo de instalações e modo de funcionamento, pode actuar favorável ou desfavoravelmente sobre o crescimento e desenvolvimento, condicionando fortemente a saúde de todos os seus utilizadores, respectivamente alunos, professores e funcionários.

A existência de um bom ambiente físico na escola promove a segurança e bem-estar dos seus utilizadores contribuindo desta forma, para que este  estabelecimento seja sentido como um local agradável e atractivo.

 

Viver num ambiente limpo e saudável é um direito humano fundamental, sendo por isso necessário informar e educar para a construção de um futuro sustentável para todos. (Plano Nacional de Saúde Escolar, 2006)

 

No decorrer deste estágio temos realizado vistorias aos estabelecimentos de educação e ensino, com o objectivo de avaliar as condições de segurança, higiene e saúde dos mesmos. Esta avaliação é realizada tendo por base as orientações presentes na Circular Normativa Nº 12/DSE da Direcção Geral de Saúde, e representa um contributo inestimável ao nível da saúde para o diagnóstico e prevenção de riscos no ambiente escolar.

O processo de vistoria representa um papel fundamental na manutenção e melhoria das condições de segurança saúde e higiene essenciais para o desenvolvimento saudável e harmonioso da população escolar. Contudo e pelo que me tenho vindo a aperceber existem uma série de factores que podem condicionar estas acções, uma vez que estas não dependem exclusivamente das equipas de saúde escolar. Deste modo não é demais enfatizar a importância da existência de uma maior interdisciplinaridade entre os diferentes intervenientes na promoção da Saúde, para fomentar intervenções mais rápidas e eficazes.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), segundo o documento Health for all, prevê-se que em 2015, 50% das crianças que frequentem o Jardim-de-infância e 95% das que frequentem a Escola integrem estabelecimentos de educação e ensino promotores da saúde.

Em contrapartida os indicadores da Direcção Geral de Saúde, publicados no Microsite do Plano Nacional de Saúde 2011-2016, apontam que a percentagem de Centros de Saúde que têm equipas de Saúde Escolar apresentou uma ligeira tendência decrescente em todas as Regiões.

Em 2004/2005 a percentagem de escolas abrangidas pelo programa de Saúde Escolar que foram avaliadas quanto às condições de segurança, higiene e saúde era superior a 60% nas Regiões Norte, Centro e Lisboa e Vale do Tejo, sendo as percentagens mais reduzidas nas Regiões do Sul de Portugal. Contudo, desde o ano lectivo 2005/2006 a tendência tem sido decrescente, atingindo os 56% em 2006/2007 afastando-se da meta prevista para 2010.

De acordo com os dados disponíveis, 37 a 40% das escolas foram avaliadas em 2008/2009. Concomitantemente, ainda que se tenha registado uma evolução positiva no período analisado em quase todas as Regiões, verificou-se que de todas as escolas avaliadas apenas um pequeno número apresentava boas condições de segurança e higiene dos edifícios e recinto escolar.

De um modo geral, entre 2004/2005 e 2008/2009, mais de 60% das escolas que foram avaliadas relativamente às condições de segurança e higiene do meio ambiente obtiveram uma classificação favorável.

Fonte: Indicadores e Metas em Saúde, PNS 2011-2016

Considerando os dados publicados parece que ainda temos um grande trabalho pela frente no sentido de tornar as nossas acções mais abrangentes, consistentes e efectivas. Deste modo, tendo em conta que a melhoria das condições de segurança, higiene e saúde nas escolas é uma preocupação quer da Direcção Regional de Educação, Autarquias e dos Serviços de Saúde Pública, é criado um objectivo comum pelo qual todos devem lutar em conjunto. Por outro lado, considerando a abrangência da comunidade escolar e uma vez confrontada com a realidade de que as escolas atribuem, muitas vezes, a responsabilidade dos assuntos de saúde à saúde escolar, arrisco-me inclusivamente a frisar que competindo também à escola educar para os valores, promover a saúde e a formação dos alunos, num processo de aquisição de competências que sustentem as aprendizagens ao longo da vida, talvez seja uma mais valia criar equipas de saúde escolar, multidisciplinares, autónomas, que envolvam todos os que integram o processo educativo, como os professores, auxiliares e pais, pois cada elemento contribui com conhecimentos e experiências diferentes privilegiando a interacção de todos os profissionais envolvidos com o fim de alcançar o objectivo comum através da responsabilidade partilhada.

 

Partilho de seguidas algumas das não conformidades mais frequentemente encontradas nas escolas que visitei, no âmbito das vistorias realizadas:

 



Bancos pontiagudos 



Tomadas electricas desprotegidas

Bancos com cantos pontiagudos.

Tomadas eléctricas desprotegidas.



Redes mau estado de conservação



produtos quimicos



 

Vedação  em mau estado de conservação.

Produtos de limpeza em local não identificado e de fácil acesso.



Aquecedor de parede risco de queimadura

WC p mobilidade condicionada despensa

Equipamentos de aquecimento mal localizados (fácil acesso às crianças-risco de queimaduras)

Instalação sanitária para pessoas com mobilidade condicionada utilizada como despensa.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Cartas de Risco Sanitário

Sabe-se que já desde as primeiras civilizações, a informação espacial tem sido  congregada por homens de diferentes conhecimentos (navegadores, geógrafos, planeadores, etc.) sendo posteriormente utilizada, apresentada e expandida para diferentes fins e de variadas formas.
As novas tecnologias de informação, permitiram compactar, organizar e manipular de uma forma rápida e segura toda a informação. 


Os SIGs (Geographic Information System) são um exemplo de um sistema de hardware, software e informação espacial que facilitam a análise, gestão ou representação do espaço e dos fenómenos que nele ocorrem. A utilidade destes sistemas prende-se com a construção de modelos do mundo real que permitem dar respostas ou alternativas, isto é, medem, mapeiam, monitorizam alterações no tempo e no espaço e modelam alternativas de acções e processos que se desenrolam no ambiente. 
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A utilização dos SIG  em saúde pública e sobretudo nos estudos de epidemiologia, surgiram da necessidade de associar um determinado fenómeno à sua localização geográfica, uma vez identificadas as relações espaciais de ocorrências epidemiológicas com clip_image003factores exógenos, ambientais. Este sistema possibilita assim, determinar as associações entre as ocorrências de doenças e o ambiente através da observação e interpretação de dados geográficos que revelam as relações espaciais, os padrões e tendências temporais sob a forma de mapas, gráficos ou relatórios.


Os SIG permitem compatibilizar a informação proveniente de diversas fontes, como informação de sensores espaciais (detecção remota), informação recolhida com GPS ou obtida com os métodos tradicionais da topografia.


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Uma vez recolhida a informação, é possível organizar as informações de um mapa em bases de dados geográficas que são constituídas por layers (camadas ou níveis). Cada layer representa um grupo de elementos do mesmo tipo. Por exemplo,  num mapa podemos ter um layer de contornos de municípios, outro com as rodovias de acesso e um último com a localização dos locais de prestação de cuidados de saúde de cada município, desta forma toda a base geográfica possui pelo menos um layer. A grande vantagem desta ferramenta, é que nos permite que a pesquisa seja feita de acordo com os níveis de análise pretendidos.


De uma forma geral, posso concluir que um SIG representa uma ferramenta bastante útil que pode apoiar a obtenção de respostas aos problemas de saúde pública e epidemiológicos de uma forma compreensível e de fácil disseminação, com os benefícios evidentes que isto representa.


"Na realidade, a implementação destas ferramentas (SIG) pode ser extremamente importante para a modelação de situações de catástrofe, permitindo uma rápida análise das áreas afectadas, ou para a avaliação de impactos" (Tiago Carvalho, 2009)


De forma a aproveitar todas estas potencialidades e inovar as acções de vigilância sanitária feitas até hoje, a unidade de Saúde Pública, tem vindo a desenvolver um bom trabalho, na marcação de pontos GPS, que permite em tempo útil, visualizar toda a região, no que se refere aos estabelecimentos ou equipamentos, que estão ou podem vir a estar associados a potenciais situações de risco para a saúde (captações, estações de tratamento, estabelecimentos de restauração e bebidas, indústrias, estabelecimentos hoteleiros, unidades de saúde, estabelecimentos de apoio social, estabelecimentos de educação e ensino, locais de abrigo, etc.). 

Desta intervenção resultam as chamadas Cartas de Risco Sanitário, que permitirão reforçar e efectivar a vigilância epidemiológica com os benefícios a elas associados, isto é, obter resultados em tempo útil.


Uma parte destes conceitos que vemos hoje a desenvolverem-se de forma vertiginosa, com múltiplas aplicações, teve a sua primeira abordagem realizada há já 164 anos, com o trabalho de referência do físico inglês John Snow. Este investigador relacionou surtos de cólera com a proximidade às fontes de água na cidade de Londres e encontrou padrões explicados pela relação geográfica entre o surto e um factor externo, que condicionava espacialmente o fenómeno em causa.

 
Fig. 1- Excerto da cartografia utilizada no estudo de John Snow

 
OUTROS EXEMPLO DA SUA APLICAÇÃO:
 
Cartas de Ruído
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Fig 2 – Carta de Ruído



As cartas de ruído são instrumentos essenciais no diagnóstico e gestão do meio ambiente sonoro, sendo uma fonte de informação para técnicos de planeamento do território e para os cidadãos em geral.

QualAr

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Fig. 3- Plataforma online QualAr


No âmbito do sistema de monitorização de qualidade do ar em Portugal a Agência Portuguesa do Ambiente promoveu o desenvolvimento da base de dados sobre qualidade do ar QualAr, com a possibilidade de consulta via Internet.
Esta aplicação permite reunir os dados de qualidade do ar medidos em Portugal e disponibilizar informação ao público sobre qualidade do ar. 


Para ser mais explícito aquilo que realizamos no terreno passarei a ilustrar a forma como marcamos os pontos e posteriormente como descarregamos estes dados:



Marcação de pontos GPS


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Marcação das coordenadas através do GPS, junto do ponto que pretendemos georeferenciar: Latitude (distância ao Equador medida ao longo do meridiano de Greenwich) e Longitude (distância ao meridiano de Greenwich medida ao longo do Equador).
Os dados recolhidos surgem no visor no seguinte formato:

Lat: 54º 28.213 N
                Long: 27º 22.312 W      

                       
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Às coordenadas é atribuído um código que identifica cada ponto.
Uma vez recolhidas todas as coordenadas, descarregamos posteriormente no google earth.



No terreno, para além de marcarmos as coordenadas, é também recolhido um registo fotográfico de cada local e recolhidas informações importantes acerca de cada estabelecimento, por exemplo, se é abastecido por água da rede pública, se o sistema de esgotos está ligado ao colector municipal, a lotação do espaço, no caso dos postos de saúde recolhemos informação sobre o tipo de equipamentos que contém e também qual o tratamento que dão aos resíduos, entre outros.


Em suma, não é de mais reforçar que os SIG’s tem-se revelado uma ferramenta de gestão eficaz e uma mais valia para todos profissionais das áreas de saúde pública e saúde ambiental, quer pela determinação de possíveis associações entre as ocorrências de doenças e o ambiente, quer pela possibilidade de prever ocorrência de uma série de calamidades naturais com bastante antecedência,  ajudando-nos a tomar medidas para minimizar os efeitos desses eventos naturais extremos

domingo, 5 de junho de 2011

Legionella: Um problema de Saúde Pública

A doença dos Legionários é uma forma de pneumonia grave causada por bactérias do género Legionella pneumophila, reportando-se os últimos dados disponíveis ao ano de 2009, onde foram notificados 818 casos de legionelose, notificados a partir de 22 países europeus e 2 não europeus no Europeu de Vigilância Regime de Viagens Associada a Doença dos Legionários (EWGLINET). 



 A Legionella encontra-se com frequência em instalações de redes de água predial, sistemas de humidificação e arrefecimento de equipamentos de climatização, instalações termais entre outras, com capacidade de formação de aerossóis.

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Existem mais de 35 espécies de legionella, com mais de 45 serotipos, contudo apenas a legionella pneumophilla, do serotipo 1, pode provocar a doença. A ocorrência de infecção resulta da inalação dos aerossóis contaminados, e depende da concentração e virulência das estirpes implicadas, não se tendo averiguado casos de transmissão homem para homem.
 
A bactéria legionella desenvolve-se e multiplica-se a temperaturas entre os 20 e os 45 graus, destruindo-se a partir dos 70 °C. A sua temperatura óptima de crescimento é a gama dos 35 a 37 °C.


 
A legionelose pode apresentar duas formas clínicas distintas: a infecção pulmonar mais conhecida por doença do legionário que se caracteriza por uma pneumonia com febres altas, e a forma não pneumónica, conhecida como Febre de Pontiac, que se manifesta por um síndroma febril agudo e de prognóstico leve. A infecção causada por esta bactéria atinge especialmente os adultos, entre os 40 e os 70 anos, fumadores, indivíduos com problemas respiratórios crónicos, doentes renais e, de um modo geral, imunodeprimidos. 
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REDES PREDIAIS DE ÁGUA
 
As redes de água quente e fria dos empreendimentos turísticos podem muitas vezes reunir condições favoráveis ao desenvolvimento de legionella, quer pela possibilidade do teor de cloro residual livre na água ser baixo, quer devido a roturas na rede pública de abastecimento, através da entrada de sedimentos.
Os sistemas de água quente com acumulador e circuito de retorno são mais susceptíveis à proliferação e dispersão desta bactéria, sendo as zonas mais sensíveis à formação de aerossóis as saídas dos chuveiros, torneiras, banhos, jacuzis, entre outros.
 
FACTORES DE RISCO
 
· Pontos de água estagnada: depósitos de água, termoacumuladores, troços da rede associados a juntas cegas;
· Deficiente higienização das redes (ausência de purgas regulares e limpeza às redes e depósitos, défice no tratamento da água do ponto de vista da desinfecção e dos fenómenos de corrosão ou de incrustação);
· Presença de materiais inadequados, como borrachas, plásticos e linho associados aos acessórios da rede, permitindo o desenvolvimento do biofilme;
· Temperatura da água quente sanitária inferior a 50ºC, sobretudo pontos de extremidade da rede e circuito de retorno de água quente;
· Temperatura da água fria sanitária superior a 20ºC; 
· Inexistência de um programa de monitorização e controlo da qualidade da água. 

De acordo com o guia publicado pela Comissão Sectorial para a Água, intitulado Prevenção e Controlo de Legionella nos Sistemas de Água, a prevenção deve ser exercida desde a concepção das instalações até à sua operação e manutenção. Estas recomendações devem ser seguidas por projectistas, donos de obra e responsáveis por instalações, de modo a evitar a proliferação da doença.
 
PROCEDIMENTOS DE COLHEITA  DE ÁGUA EM CHUVEIROS, DESTINADA À PESQUISA DE LEGIONELA
 
1.º Não desmontar acessórios da torneira, caso existam.
2.º Não deixar correr a água.
3.º Não desinfectar interior e exteriormente o bocal da torneira com algodão embebido em álcool.
4.º Não flamejar a torneira.
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5. Desinfectar as mãos
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6. Introduzir a cabeça do chuveiro dentro de um saco de plástico esterilizado
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7.  Cortar um canto do fundo do saco e inseri-lo no bocal do frasco
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8. Destapar o frasco (1 litro) na proximidade da torneira, conservando a tampa
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9.  Encher o frasco até meia altura com o fluxo inicial, mantendo-o inclinado e sem contacto com a torneira. Fechar o frasco
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10. Realizar a colheita de biofilme com zaragatoa

11. Repetir a recolha de água, enchendo o resto do frasco, que receberá o raspado trazido pela água (não encher o frasco na totalidade deixando um vazio de 1 cm de altura).
12. Fechar o frasco.
13. Identificar o frasco.
14. Colocar o frasco em mala de transporte ou saco, opacos. O transporte é feito à temperatura ambiente e ao abrigo da luz solar.
 
Parâmetros a determinar no ponto de colheita, imediatamente a seguir:
A temperatura - Após o procedimento anterior, encher um recipiente com água,
mergulhar a sonda e registar a temperatura indicada.
  
EWGLINET
 
Estas infecções, identificadas desde 1976, têm vindo a adquirir cada vez mais importância, quer em ambiente hospitalar quer na comunidade, com especial relevância na infecção associada ao viajante, o que levou à criação, do European Working Group for Legionella Infections (EWGLI), em que Portugal está representado. Mais tarde, foi criada a Rede Europeia de Vigilância da Doença dos Legionários associada a viagens, EWGLINET, que funciona em ligação com o Programa de Controlo de Doenças Transmissíveis da União Europeia. 

Em Portugal a doença é de declaração obrigatória desde 1999, devendo qualquer caso notificado ser alvo de uma investigação epidemiológica incluindo um estudo ambiental completo de possíveis fontes de infecção, sempre que a avaliação ambiental assim o justifique, nomeadamente se a fonte de infecção for um equipamento de utilização colectiva (CN nº 06/DT 22/04). Contudo a sub-notificação dos casos é uma realidade que em muito prejudica a investigação epidemiológica, muito provavelmente resultado de um sub-diagnóstico. 

A vigilância epidemiológica é hoje a ferramenta metodológica mais importante para a prevenção e controle de doenças em saúde pública e por isso mesmo ela surge reforçada nestes casos com o objectivo de aperfeiçoar e tornar mais rigoroso, segundo a circular normativa nº 06/DT de 22-04-04, a confirmação de casos, a sua melhor caracterização, a procura de casos relacionados, identificação de clusters e a eventual identificação do reservatório ambiental da bactéria (fonte de infecção) que deu origem ao caso em estudo.

Este sistema de informação representa, uma ferramenta operacional capaz de monitorizar o comportamento epidemiológico da doença, permitindo investigar, os casos suspeitos e notificar áreas de risco, nomeadamente em países e hotéis. Neste sentido, será bastante mais fácil definir grupos de risco, através da análise de dados e posterior adopção de medidas de controlo pertinentes. É notória a importância e o contributo que este sistema trouxe para a saúde pública, pois desta forma, poderá ser evitado o aparecimento de novos casos com base no conhecimento dos locais geográficos de surtos.
  
Durante esta semana tive a oportunidade de explorar e aprender mais sobre esta temática, percebendo que de uma forma geral, nós, enquanto técnicos de saúde ambiental, assumimos frequentemente o papel de investigador, pois temos que ser bastante críticos e perspicazes para conseguirmos interpretar cada situação, analisar cada sistema em particular, aplicando os nossos conhecimentos para chegar a novas conclusões!  

 CURIOSIDADE:

Sabia que existe uma espécie de Legionella que vive no solo? 

Chama-se Legionella longbeachae e é encontrada nos solos e em adubos industrializados podendo causar, quando inaladas, a Febre Pontiac e algumas vezes a doença dos legionários. Saiba mais aqui


Documentos de referência: