sexta-feira, 10 de junho de 2011

Cartas de Risco Sanitário

Sabe-se que já desde as primeiras civilizações, a informação espacial tem sido  congregada por homens de diferentes conhecimentos (navegadores, geógrafos, planeadores, etc.) sendo posteriormente utilizada, apresentada e expandida para diferentes fins e de variadas formas.
As novas tecnologias de informação, permitiram compactar, organizar e manipular de uma forma rápida e segura toda a informação. 


Os SIGs (Geographic Information System) são um exemplo de um sistema de hardware, software e informação espacial que facilitam a análise, gestão ou representação do espaço e dos fenómenos que nele ocorrem. A utilidade destes sistemas prende-se com a construção de modelos do mundo real que permitem dar respostas ou alternativas, isto é, medem, mapeiam, monitorizam alterações no tempo e no espaço e modelam alternativas de acções e processos que se desenrolam no ambiente. 
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A utilização dos SIG  em saúde pública e sobretudo nos estudos de epidemiologia, surgiram da necessidade de associar um determinado fenómeno à sua localização geográfica, uma vez identificadas as relações espaciais de ocorrências epidemiológicas com clip_image003factores exógenos, ambientais. Este sistema possibilita assim, determinar as associações entre as ocorrências de doenças e o ambiente através da observação e interpretação de dados geográficos que revelam as relações espaciais, os padrões e tendências temporais sob a forma de mapas, gráficos ou relatórios.


Os SIG permitem compatibilizar a informação proveniente de diversas fontes, como informação de sensores espaciais (detecção remota), informação recolhida com GPS ou obtida com os métodos tradicionais da topografia.


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Uma vez recolhida a informação, é possível organizar as informações de um mapa em bases de dados geográficas que são constituídas por layers (camadas ou níveis). Cada layer representa um grupo de elementos do mesmo tipo. Por exemplo,  num mapa podemos ter um layer de contornos de municípios, outro com as rodovias de acesso e um último com a localização dos locais de prestação de cuidados de saúde de cada município, desta forma toda a base geográfica possui pelo menos um layer. A grande vantagem desta ferramenta, é que nos permite que a pesquisa seja feita de acordo com os níveis de análise pretendidos.


De uma forma geral, posso concluir que um SIG representa uma ferramenta bastante útil que pode apoiar a obtenção de respostas aos problemas de saúde pública e epidemiológicos de uma forma compreensível e de fácil disseminação, com os benefícios evidentes que isto representa.


"Na realidade, a implementação destas ferramentas (SIG) pode ser extremamente importante para a modelação de situações de catástrofe, permitindo uma rápida análise das áreas afectadas, ou para a avaliação de impactos" (Tiago Carvalho, 2009)


De forma a aproveitar todas estas potencialidades e inovar as acções de vigilância sanitária feitas até hoje, a unidade de Saúde Pública, tem vindo a desenvolver um bom trabalho, na marcação de pontos GPS, que permite em tempo útil, visualizar toda a região, no que se refere aos estabelecimentos ou equipamentos, que estão ou podem vir a estar associados a potenciais situações de risco para a saúde (captações, estações de tratamento, estabelecimentos de restauração e bebidas, indústrias, estabelecimentos hoteleiros, unidades de saúde, estabelecimentos de apoio social, estabelecimentos de educação e ensino, locais de abrigo, etc.). 

Desta intervenção resultam as chamadas Cartas de Risco Sanitário, que permitirão reforçar e efectivar a vigilância epidemiológica com os benefícios a elas associados, isto é, obter resultados em tempo útil.


Uma parte destes conceitos que vemos hoje a desenvolverem-se de forma vertiginosa, com múltiplas aplicações, teve a sua primeira abordagem realizada há já 164 anos, com o trabalho de referência do físico inglês John Snow. Este investigador relacionou surtos de cólera com a proximidade às fontes de água na cidade de Londres e encontrou padrões explicados pela relação geográfica entre o surto e um factor externo, que condicionava espacialmente o fenómeno em causa.

 
Fig. 1- Excerto da cartografia utilizada no estudo de John Snow

 
OUTROS EXEMPLO DA SUA APLICAÇÃO:
 
Cartas de Ruído
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Fig 2 – Carta de Ruído



As cartas de ruído são instrumentos essenciais no diagnóstico e gestão do meio ambiente sonoro, sendo uma fonte de informação para técnicos de planeamento do território e para os cidadãos em geral.

QualAr

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Fig. 3- Plataforma online QualAr


No âmbito do sistema de monitorização de qualidade do ar em Portugal a Agência Portuguesa do Ambiente promoveu o desenvolvimento da base de dados sobre qualidade do ar QualAr, com a possibilidade de consulta via Internet.
Esta aplicação permite reunir os dados de qualidade do ar medidos em Portugal e disponibilizar informação ao público sobre qualidade do ar. 


Para ser mais explícito aquilo que realizamos no terreno passarei a ilustrar a forma como marcamos os pontos e posteriormente como descarregamos estes dados:



Marcação de pontos GPS


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Marcação das coordenadas através do GPS, junto do ponto que pretendemos georeferenciar: Latitude (distância ao Equador medida ao longo do meridiano de Greenwich) e Longitude (distância ao meridiano de Greenwich medida ao longo do Equador).
Os dados recolhidos surgem no visor no seguinte formato:

Lat: 54º 28.213 N
                Long: 27º 22.312 W      

                       
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Às coordenadas é atribuído um código que identifica cada ponto.
Uma vez recolhidas todas as coordenadas, descarregamos posteriormente no google earth.



No terreno, para além de marcarmos as coordenadas, é também recolhido um registo fotográfico de cada local e recolhidas informações importantes acerca de cada estabelecimento, por exemplo, se é abastecido por água da rede pública, se o sistema de esgotos está ligado ao colector municipal, a lotação do espaço, no caso dos postos de saúde recolhemos informação sobre o tipo de equipamentos que contém e também qual o tratamento que dão aos resíduos, entre outros.


Em suma, não é de mais reforçar que os SIG’s tem-se revelado uma ferramenta de gestão eficaz e uma mais valia para todos profissionais das áreas de saúde pública e saúde ambiental, quer pela determinação de possíveis associações entre as ocorrências de doenças e o ambiente, quer pela possibilidade de prever ocorrência de uma série de calamidades naturais com bastante antecedência,  ajudando-nos a tomar medidas para minimizar os efeitos desses eventos naturais extremos

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