sábado, 25 de junho de 2011

Vigilância Sanitária das Zonas Balneares Interiores

Os técnicos de saúde ambiental vão à praia não para desfrutar da combinação perfeita entre água, areia, sol e toalha, mas antes para promover acções que garantam que as zonas balneares não apresentem riscos para os seus utilizadores, quer pela qualidade da água, assim como pelas condições higio-sanitárias da zona envolvente. 

O programa de vigilância sanitária das zonas balneares interiores visa dar cumprimento ao preconizado no Decreto-Lei n.º 135/2009, de 3 de Junho e nas orientações publicadas pela Direcção-Geral de Saúde na Norma 009/2011 de 28/04

«Águas Balneares» são as águas superficiais, quer sejam interiores, costeiras ou de transição, tal como definidas na Lei da Água, aprovada pela Lei n.º 58/2005, de 29 de Dezembro, em que se preveja que um grande número de pessoas se banhe e onde a prática balnear não tenha sido interdita ou desaconselhada de modo permanente.
Decreto-Lei n.º 135/2009

O referido programa apresenta como principais finalidades:
- Actualizar a caracterização e a avaliação das condições de segurança e funcionamento das instalações envolventes das zonas balneares.
- Avaliar o risco das zonas balneares.
- Mitigar os riscos para a saúde dos seus utilizadores. 

Cabe aos Serviços de Saúde planear, coordenar e executar o programa de vigilância sanitária sendo da sua responsabilidade a realização de colheitas e o levantamento e caracterização das zonas envolventes.
De modo a cumprir as acções de Vigilância Sanitária integradas nas vertentes tecnológica, analítica e epidemiológica temos na: 

VERTENTE ANALÍTICA:  
- Realização de colheitas de água para análise: permitir-nos-á realizar a avaliação do risco para a saúde associado à utilização daquela água para  fins balneares, nomeadamente no que se refere a interdições. 

Procedimentos de amostragem para análise microbiológica
Parâmetros: Escherichia coli e Enterococos intestinais
IMGP0001
IMGP0004
Material necessário à realização da colheita
A amostra deve ser recolhida 30 cm abaixo da superfície da água, a uma profundidade no mínimo de 1m.
IMGP0006 IMGP0009
Mergulhar o frasco verticalmente, com gargalo para baixo, até uma profundidade de 30 cm
Retirar o frasco, fechando-o de seguida. O frasco não deve ficar completamente cheio (mínimo 2 cm de ar)
IMGP0010  CLORIMETR0
Identificar a amostra
Medição do pH e Temperatura
 IMGP0015
Medição da turvação da água através do turbidímetro. **
** A turbidez da água é causada pela presença de diversos materiais em suspensão, tais como, lamas, areias, matéria orgânica e inorgânica, plâncton e outros organismos microscópicos.
A presença destes materiais em suspensão numa amostra de água reduzem a transparência da água, devido a presença de material em suspensão, dificultando passagem da luz pela solução. A turbidez é a expressão desta propriedade óptica e é indicada em termos de unidades de turbidez (NTU – Nephelometric Turbity Unit).
Procedimento de amostragem de cianobactérias

Garrafa Van Dorn
Para realizar a colheita de cianobactérias utilizamos a garrafa de Van Dorn com capacidade até 2,5 L, que permite recolher amostras de água a diversas profundidades. O seu funcionamento consiste em mergulhar a garrafa aberta nas duas extremidades e após atingir a profundidade desejada, lançamos o testemunho que fecha hermeticamente as duas extremidades. (Visualizar vídeo 1)
As cianobactérias, também conhecidas por algas azuis, são um grupo de seres vivos que ocorrem especialmente em águas com velocidade de corrente baixa ou nula, como é o caso de lagoas e albufeiras (água superficiais). Estas algas constituem um risco para a saúde pública, pela utilização de água contaminada para consumo ou em actividades de recreio. Na ausência de tratamento adequado para a retenção dos microrganismos e das suas toxinas, estas são responsáveis pela ocorrência de surtos de doenças agudas ou crónicas, dependendo da dose e tempo de exposição. A saúde humana pode ser afectada por inalação de cianobactérias ou de esporos, pela ingestão de água ou contacto directo. 

Dicas para a identificação ou suspeita de cianobactérias através inspecção visual :
-  Cor da água verde intensa, azul-esverdeada, ou verde-acastanhada;
- Formação de uma camada seca de cor azul ou verde nas margens;

Vídeo 1 – Procedimentos de Colheita

Disco de Secchi - Determinação de Transparência
É um disco especialmente construído para medir a transparência daIMGP0022 água em oceanos, lagos, rios, etc. Este dispositivo, consiste num disco com 20 cm de diâmetro dividido em quadrantes alternantes brancos e pretos que se encontra preso a uma corda marcada de 0,5 em 0,5m. Ao mergulharmos o disco de Secchi ao longo da coluna de água conseguimos determinar a que profundidade é que o disco deixa de ser visível (profundidade de Secchi). Quanto maior for a transparência da água, maior é a profundidade a que o disco deixa de ser visível. A profundidade de Secchi relaciona-se directamente com a transparência e inversamente com a turbidez da água.

Medição de Oxigénio Dissolvido
IMGP0027 A presença de oxigénio dissolvido é fundamental ao metabolismo aeróbio dos organismos aquáticos,  bem como às inúmeras reacções químicas essenciais ao funcionamento de uma albufeira, sendo que a sua distribuição afecta fortemente a solubilidade de muitos nutrientes inorgânicos.
Por este motivo importa medir a sua presença na água, sendo ele mais um elemento que nos ajuda a avaliar a sua qualidade.


Esta actividade envolve o preenchimento do Modelo A – Ficha de Campo :

Objectivos:
- Levantamento das condições atmosféricas no momento da colheita da amostra de água balnear, 
- Observação visual e/ou olfactiva da água e da areia





VERTENTE TECNOLÓGICA:
·        - Caracterizar a zona balnear e avaliar as condições de segurança e funcionamento das instalações envolventes.
·        - Avaliar as condições estruturais e de funcionamento e promoção da correcção das não conformidades identificadas.

Esta actividade envolve o preenchimento do Modelo B – Avaliação da Zona Envolvente
 
Objectivos:
·        - Avaliar condições sanitárias e de funcionamento da zona balnear: salubridade, segurança e estruturas de apoio e levantamento de fontes de poluição.
·        -Cumprimento dos requisitos de higiene e segurança alimentar, dos locais de trabalho e locais de atendimento público.
Nota: Deve realizar-se no início e a meio da época balnear ou sempre que as situações ambientais e/ou epidemiológicas o justificarem.


E também o preenchimento do Modelo C – Caracterização da Zona Balnear

Objectivos:
·        - Avaliar as condições higio-sanitárias das zonas balneares, concluindo com a atribuição de um índice sanitário.
·        - Fornecer uma listagem de aspectos que deverão ser alvo de intervenção, para melhorar as condições de salubridade, segurança e de infra-estruturas de apoio aos utentes, através de acções complementares.

Nota: Este modelo deve ser preenchido de 5 em 5 anos e sempre que uma nova zona balnear integre pela 1.ª vez o programa.

VERTENTE EPIDEMIOLÓGICA: envolve a realização de estudos orientados para a avaliação de factores de risco, quando justificados pelos dados ambientais ou epidemiológicos.

Após todas as novas aprendizagens que realizei esta semana, o meu tempo de reflexão levou-me a pensar que os técnicos de saúde ambiental, no seu exercício profissional estão expostos a imensos factores de riscos, quer pela sua intervenção em locais insalubres ou outras situações de risco, quer pela realização de certos trabalhos sob condições desfavoráveis para a saúde. E porque a compensação de risco é um fenómeno que depende da percepção de risco de cada individuo, em que cada um tende a ajustar o seu comportamento em função dessa percepção, nem mesmo os profissionais que trabalham e são conhecedores destas temáticas se livram de fazer este tipo de compensação. Assim sendo, relembro que para conseguirmos promover a segurança dos outros temos que primeiramente zelar pela nossa própria segurança!! 

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