domingo, 5 de junho de 2011

Legionella: Um problema de Saúde Pública

A doença dos Legionários é uma forma de pneumonia grave causada por bactérias do género Legionella pneumophila, reportando-se os últimos dados disponíveis ao ano de 2009, onde foram notificados 818 casos de legionelose, notificados a partir de 22 países europeus e 2 não europeus no Europeu de Vigilância Regime de Viagens Associada a Doença dos Legionários (EWGLINET). 



 A Legionella encontra-se com frequência em instalações de redes de água predial, sistemas de humidificação e arrefecimento de equipamentos de climatização, instalações termais entre outras, com capacidade de formação de aerossóis.

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Existem mais de 35 espécies de legionella, com mais de 45 serotipos, contudo apenas a legionella pneumophilla, do serotipo 1, pode provocar a doença. A ocorrência de infecção resulta da inalação dos aerossóis contaminados, e depende da concentração e virulência das estirpes implicadas, não se tendo averiguado casos de transmissão homem para homem.
 
A bactéria legionella desenvolve-se e multiplica-se a temperaturas entre os 20 e os 45 graus, destruindo-se a partir dos 70 °C. A sua temperatura óptima de crescimento é a gama dos 35 a 37 °C.


 
A legionelose pode apresentar duas formas clínicas distintas: a infecção pulmonar mais conhecida por doença do legionário que se caracteriza por uma pneumonia com febres altas, e a forma não pneumónica, conhecida como Febre de Pontiac, que se manifesta por um síndroma febril agudo e de prognóstico leve. A infecção causada por esta bactéria atinge especialmente os adultos, entre os 40 e os 70 anos, fumadores, indivíduos com problemas respiratórios crónicos, doentes renais e, de um modo geral, imunodeprimidos. 
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REDES PREDIAIS DE ÁGUA
 
As redes de água quente e fria dos empreendimentos turísticos podem muitas vezes reunir condições favoráveis ao desenvolvimento de legionella, quer pela possibilidade do teor de cloro residual livre na água ser baixo, quer devido a roturas na rede pública de abastecimento, através da entrada de sedimentos.
Os sistemas de água quente com acumulador e circuito de retorno são mais susceptíveis à proliferação e dispersão desta bactéria, sendo as zonas mais sensíveis à formação de aerossóis as saídas dos chuveiros, torneiras, banhos, jacuzis, entre outros.
 
FACTORES DE RISCO
 
· Pontos de água estagnada: depósitos de água, termoacumuladores, troços da rede associados a juntas cegas;
· Deficiente higienização das redes (ausência de purgas regulares e limpeza às redes e depósitos, défice no tratamento da água do ponto de vista da desinfecção e dos fenómenos de corrosão ou de incrustação);
· Presença de materiais inadequados, como borrachas, plásticos e linho associados aos acessórios da rede, permitindo o desenvolvimento do biofilme;
· Temperatura da água quente sanitária inferior a 50ºC, sobretudo pontos de extremidade da rede e circuito de retorno de água quente;
· Temperatura da água fria sanitária superior a 20ºC; 
· Inexistência de um programa de monitorização e controlo da qualidade da água. 

De acordo com o guia publicado pela Comissão Sectorial para a Água, intitulado Prevenção e Controlo de Legionella nos Sistemas de Água, a prevenção deve ser exercida desde a concepção das instalações até à sua operação e manutenção. Estas recomendações devem ser seguidas por projectistas, donos de obra e responsáveis por instalações, de modo a evitar a proliferação da doença.
 
PROCEDIMENTOS DE COLHEITA  DE ÁGUA EM CHUVEIROS, DESTINADA À PESQUISA DE LEGIONELA
 
1.º Não desmontar acessórios da torneira, caso existam.
2.º Não deixar correr a água.
3.º Não desinfectar interior e exteriormente o bocal da torneira com algodão embebido em álcool.
4.º Não flamejar a torneira.
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5. Desinfectar as mãos
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6. Introduzir a cabeça do chuveiro dentro de um saco de plástico esterilizado
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7.  Cortar um canto do fundo do saco e inseri-lo no bocal do frasco
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8. Destapar o frasco (1 litro) na proximidade da torneira, conservando a tampa
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9.  Encher o frasco até meia altura com o fluxo inicial, mantendo-o inclinado e sem contacto com a torneira. Fechar o frasco
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10. Realizar a colheita de biofilme com zaragatoa

11. Repetir a recolha de água, enchendo o resto do frasco, que receberá o raspado trazido pela água (não encher o frasco na totalidade deixando um vazio de 1 cm de altura).
12. Fechar o frasco.
13. Identificar o frasco.
14. Colocar o frasco em mala de transporte ou saco, opacos. O transporte é feito à temperatura ambiente e ao abrigo da luz solar.
 
Parâmetros a determinar no ponto de colheita, imediatamente a seguir:
A temperatura - Após o procedimento anterior, encher um recipiente com água,
mergulhar a sonda e registar a temperatura indicada.
  
EWGLINET
 
Estas infecções, identificadas desde 1976, têm vindo a adquirir cada vez mais importância, quer em ambiente hospitalar quer na comunidade, com especial relevância na infecção associada ao viajante, o que levou à criação, do European Working Group for Legionella Infections (EWGLI), em que Portugal está representado. Mais tarde, foi criada a Rede Europeia de Vigilância da Doença dos Legionários associada a viagens, EWGLINET, que funciona em ligação com o Programa de Controlo de Doenças Transmissíveis da União Europeia. 

Em Portugal a doença é de declaração obrigatória desde 1999, devendo qualquer caso notificado ser alvo de uma investigação epidemiológica incluindo um estudo ambiental completo de possíveis fontes de infecção, sempre que a avaliação ambiental assim o justifique, nomeadamente se a fonte de infecção for um equipamento de utilização colectiva (CN nº 06/DT 22/04). Contudo a sub-notificação dos casos é uma realidade que em muito prejudica a investigação epidemiológica, muito provavelmente resultado de um sub-diagnóstico. 

A vigilância epidemiológica é hoje a ferramenta metodológica mais importante para a prevenção e controle de doenças em saúde pública e por isso mesmo ela surge reforçada nestes casos com o objectivo de aperfeiçoar e tornar mais rigoroso, segundo a circular normativa nº 06/DT de 22-04-04, a confirmação de casos, a sua melhor caracterização, a procura de casos relacionados, identificação de clusters e a eventual identificação do reservatório ambiental da bactéria (fonte de infecção) que deu origem ao caso em estudo.

Este sistema de informação representa, uma ferramenta operacional capaz de monitorizar o comportamento epidemiológico da doença, permitindo investigar, os casos suspeitos e notificar áreas de risco, nomeadamente em países e hotéis. Neste sentido, será bastante mais fácil definir grupos de risco, através da análise de dados e posterior adopção de medidas de controlo pertinentes. É notória a importância e o contributo que este sistema trouxe para a saúde pública, pois desta forma, poderá ser evitado o aparecimento de novos casos com base no conhecimento dos locais geográficos de surtos.
  
Durante esta semana tive a oportunidade de explorar e aprender mais sobre esta temática, percebendo que de uma forma geral, nós, enquanto técnicos de saúde ambiental, assumimos frequentemente o papel de investigador, pois temos que ser bastante críticos e perspicazes para conseguirmos interpretar cada situação, analisar cada sistema em particular, aplicando os nossos conhecimentos para chegar a novas conclusões!  

 CURIOSIDADE:

Sabia que existe uma espécie de Legionella que vive no solo? 

Chama-se Legionella longbeachae e é encontrada nos solos e em adubos industrializados podendo causar, quando inaladas, a Febre Pontiac e algumas vezes a doença dos legionários. Saiba mais aqui


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