segunda-feira, 18 de julho de 2011

Qualidade do Ar Ambiente e Saúde Pública

No passado dia 28 de Junho, o Director Geral da Saúde Francisco George, emitiu um comunicado alertando para a qualidade do ar, a nível nacional, tendo-se registado uma corrente de Sueste de ar quente e seco que transportou, para Portugal Continental, partículas em suspensão com origem no Norte de África. (Poluição atmosférica - Partículas de origem natural)

As partículas atmosféricas referidas têm diâmetro inferior a 10 μm e são inaladas pelo sistema respiratório, podendo ser responsáveis por efeitos adversos na saúde humana. Na realidade, partículas com um diâmetro aerodinâmico menor conseguem atingir os alvéolos pulmonares e penetrar na corrente sanguínea, apresentando padrões de maior toxicidade.

Qualidade do ar é o termo comummente utilizado para traduzir o grau de poluição no ar que respiramos. Esta poluição é provocada por uma mistura de substâncias, lançadas no ar ou resultantes de reacções químicas, que alteram a constituição natural da atmosfera. O maior ou menor impacto que estas substâncias poluentes podem ter na qualidade do ar, depende da sua composição química, concentração na massa de ar e das condições meteorológicas. A título de exemplo, a existência de ventos fortes ou chuvas poderão dispersar os poluentes, ao mesmo tempo que a presença de luz solar poderá acentuar os seus efeitos negativos.

É desta forma perceptível que as fontes de poluição atmosférica podem ser de origem natural (emissões provenientes da actividade vulcânica, fogos florestais, tempestades de areia, etc.) ou de origem antropogénica - resultante da actividade humana (actividade industrial, tráfego automóvel, navios, aviões, etc.).

A concentração de uma determinada substância na atmosfera pode variar no tempo e no espaço em função de:

  • Reacções químicas e/ou fotoquímicas,
  • Fenómenos de transporte,
  • Factores meteorológicos (ventos, turbulências e inversões térmicas) e da topografia da região.

Desta forma, as condições meteorológicas tem um papel determinante na descrição físico química do transporte de poluentes entre a fonte e o receptor. Assim: 

  • as análises dos dados meteorológicos,
  • a definição dos períodos críticos,
  • a monitorização dos poluentes e
  • a modelação matemática para simulação da qualidade do ar,

representam ferramentas fundamentais para o estabelecimento de planos de controlo de poluição do ar.

Por outro lado, importa salientar que mesmo que a emissão de poluentes seja constante, a qualidade do ar pode piorar ou melhorar, de acordo com as condições meteorológicas, que podem favorecer ou desfavorecer a dispersão de poluentes. Concomitantemente deve também ser alvo da nossa atenção o sinergismo entre poluentes, isto é, quando o efeito combinado de duas substâncias é superior à soma dos efeitos de cada uma delas quando actuam isoladamente, ou seja, a sua interacção multiplica o efeito da substância tóxica.

 

Dispersão dos poluentes

Gradiente térmico

A temperatura do ar normalmente decresce com a altitude de aproximadamente 1ºC/100m. Este fenómeno acontece uma vez que uma massa de ar seco em ascensão é sujeita a pressões mais baixas aumentando o seu volume e diminuindo a temperatura - Gradiente adiabático.

Ventos

O fluxo geral de ar sobre a terra é influenciado por variações de pressão de grande escala, sendo normalmente apresentadas nas cartas meteorológicas. A intensidade destes sistemas de pressão e o seu posicionamento ou trajectórias determinam a distribuição dos ventos em uma dada área.

Circulação geral da atmosfera

Os processos atmosféricos e a circulação associada aos grandes centros de acção, determinam e afectam o estado do tempo sobre os continentes e grandes oceanos do globo. Aos centros de altas pressões designados de anticiclones estão associadas condições de tempo caracterizadas por grande estabilidade com pouca mistura vertical e portanto fraca dispersão dos poluentes (A). Aos centros de baixa pressão de depressões associam-se condições de instabilidade e de grande turbulência favorecendo a dispersão dos poluentes (B).

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Carta meteorológica.

Fonte: Instituto de Meteorologia, 2011

Os fenómenos anteriormente referidos influenciam as condições de turbulência e de estabilidade da atmosfera, e pode ter durações mais ou menos prolongadas, podendo uma vez reunidas condições desfavoráveis à dispersão, levar a episódios de poluição aguda (smog no Inverno e smog fotoquímico no Verão).

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1) Fluxo Normal: Situação normal de dispersão dos poluentes atmosféricos;

2) Inversão Térmica: Situação de dispersão dos poluentes atmosféricos sob o efeito de inversão térmica

Fonte: Agência Portuguesa do Ambiente

Estamos pois, perante mais uma ameaça de saúde pública, onde as consequências na saúde podem ser consideráveis. Em termos globais, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 800.000 pessoas morrem por ano a partir dos efeitos da poluição do ar.

Para melhor se compreender os impactos na saúde é indispensável primeiro distinguir concentração e exposição. A concentração representa uma característica física do ambiente num dado local e tempo, a exposição, por sua vez, quantifica a interacção entre o ambiente e um ser vivo. Exposição pode ser definida como o evento que ocorre quando um indivíduo está em contacto com um poluente. Em suma, para que ocorra exposição é necessário que, no mesmo local, esteja presente um indivíduo e um poluente com uma concentração maior que zero.

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Desta forma, é perceptível que as consequências para a saúde, resultantes da exposição à poluição do ar, dependem da severidade dos tipos de poluentes, da magnitude, duração,  frequência de exposição e da toxicidade de cada poluente. Por outro lado, é igualmente importante avaliar os níveis de exposição dos diferentes grupos populacionais, especialmente os grupos de risco, como crianças, idosos, grávidas e  doentes crónicos. Além dos grupos de risco referidos há que salientar que a exposição dos indivíduos depende também das actividades que realizam durante o período de tempo que estão expostos aos poluentes, por exemplo desportistas.

A título reflexivo o que se verifica no fundo é que  não existe ar puro,o ar que respiramos é uma mistura de azoto, oxigénio, dióxido de carbono, ozono, vapor de água e outros gases diversos. Na realidade uma panóplia de fenómenos naturais resulta na emissão de gases e partículas (aerossóis) para a atmosfera, como já referido, por isso e não esquecendo que  as emissões antropogénicas suscitam as maiores preocupações em relação às suas consequências para a saúde pública, torna-se fundamental apostar no controlo da qualidade do ar, para que consigamos em tempo útil tomar medidas preventivas!

Desde o ano de 2001 que foi criado o CAFE (Clean Air for Europe) que é um programa europeu de análise técnica e desenvolvimento de políticas que visa a adopção de uma Estratégia Temática sobre Poluição Atmosférica, de acordo com o 6º Programa de Acção em Matéria de Ambiente (6º PAA), cujo objectivo principal foi o de desenvolver uma estratégia política integrada e de longo termo para a protecção contra os efeitos da poluição atmosférica na saúde humana e no ambiente. (Estratégia Temática sobre Poluição Atmosférica)


Actualmente é possível mantermo-nos informados acerca da qualidade do ar on-line através do site Qualar.

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