sábado, 11 de dezembro de 2010

Segurança Alimentar ou Estratégia de Marketing?

 
Rótulo?! Para quê?
Vai agora dizer-me que, se um alho francês não tiver rótulo,
ninguém sabe o que é?!
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Certo é, que os consumidores estão cada vez mais preocupados com a origem dos alimentos e com as condições em que são produzidos e/ou preparados.  Esta preocupação é talvez alimentada por três tendências: procura da qualidade a um preço baixo, aumento da variedade dos alimentos e dos surtos a eles associados, e a crescente separação entre a produção agrícola e os consumidores.   Na realidade, verifica-se que cada vez mais os consumidores fazem refeições fora de casa e, consequentemente, os tipos de ingredientes utilizados nas refeições não são completamente do seu conhecimento.
A combinação do menor  envolvimento na preparação de alimentos e a falta de experiência sobre a segurança alimentar e potenciais consequências para a saúde, criam incertezas no consumidor.  Por outro lado, o  aumento da incidência de surtos relacionados com alimentos, (Escherichia coli, Salmonella e Listeria), bem  como o desconhecimento acerca dos efeitos negativos dos produtos geneticamente modificadas, do uso de antibióticos  e hormonas na carne e produção de leite, promove claramente um clima de insegurança alimentar.
Os custos directos e indirectos associados aos surtos supracitados podem ser devastadores para uma indústria alimentar, o que leva o consumidor a estar mais atento e apreensivo. Deste modo, o consumidor, ou até mesmo em termos mais globais os operadores do sector alimentar, exigem cada vez mais uma garantia de qualidade e segurança alimentar. Ora, este tipo de preocupação acaba por constituir uma excelente oportunidade de mercado, quer para as empresas que prestam serviços no âmbito da segurança alimentar, quer para os operadores do sector alimentar. Encarando os últimos a segurança alimentar como uma estratégia de marketing de forma a atrair os consumidores.
No meu ponto de vista, quer a segurança alimentar seja encarada com consciência da sua importância, quer como estratégia de marketing e/ou imposição legal, acaba por conduzir as empresas a trabalharem esta área.
De qualquer das formas ressalta uma questão que me leva a pensar no porquê da não consistência dos processos e procedimentos em segurança alimentar. Talvez porque quando a segurança alimentar é apenas associada a selos de garantia de qualidade, estratégias de marketing e penalizações (regimes sancionatórios), obviamente que a atenção é desviada do fundamental, não existindo um compromisso, uma preocupação e uma consciência efectiva em termos de segurança alimentar.
Constato uma vez mais que o prevenir continua a ser uma atitude ou uma politica difícil de seguir e de interiorizar. Ainda para mais, nos dias que hoje correm, é me dada a sensação que a aposta na prevenção, no real sentido da palavra, continua a ser alvo de poupança mesmo quando se sabe à partida o peso das coimas. Ainda assim, continua-se a querer manter os mesmos parâmetros de qualidade e segurança alimentar. Parece que por vezes aparentar ser é o mesmo que ser. Porque aparentar ser, ao que parece, é suficiente.

As conveniências e tudo o resto têm decerto um papel na sociedade
e eu não pretendo mudar o mundo nem as regras que, aparentemente, asseguram, se não
uma vida feliz às pessoas, pelo menos uma vida tranquila. Muitas vezes gostaria que as
regras não fossem tantas ou tamanhas que a vida chega a confundir-se com a sua aparência.
Miguel Sousa Tavares 2003, Equador, p.10

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